Biografias

Caio Prado Júnior

O “sentido da colonização”
No seu conjunto, e vista no plano mundial e internacional, a colonização dos trópicos toma o aspecto de uma vasta empresa comercial […] destinada a explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu. É este o verdadeiro sentido da colonização tropical, de que o Brasil é uma das resultantes […] Se vamos à essência da nossa formação, veremos que na realidade nos constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde ouro e diamantes; depois, algodão, e em seguida café, para o comércio europeu. Nada mais que isto […] Tudo se disporá naquele sentido: a estrutura, bem como as atividades do país […] Com tais elementos, articulados numa organização puramente produtora, industrial, se constituirá a colônia brasileira.  

Caio PRado Júnior em Formação do Brasil Contemporâneo

Caio Prado Júnior foi o terceiro dos quatro filhos de Caio da Silva Prado e de Antonieta Penteado da Silva Prado: Eduardo, Yolanda, Caio e Carlos. Casou-se três vezes: com Hermínia Cerquinho, com quem teve os filhos Yolanda e Caio Graco; com Helena Nioac, com quem teve o filho Roberto, e com Maria Cecília Naclério Homem.

Perfil Biográfico

OBS: Extraído de https://app.al.sp.gov.br/acervohistorico/exposicoes/parlamentares-paulistas/caio-prado-junior/perfil-biografico/

Caio Prado Junior pertenceu a uma das mais ricas e influentes famílias de São Paulo, cuja importância e fortuna remontavam aos tempos coloniais. Com efeito, vários parentes seus exerceram papel de destaque na vida político-econômica do estado de São Paulo. Entre seus entes mais próximos e que tiveram grande influência na sua formação destacam-se seu avô Martinho Prado Junior e seus tios-avô Antônio Prado e Eduardo Prado; sendo que os dois primeiros também possuíram mandatos no Legislativo Paulista.

Caio da Silva Prado Junior nasceu na cidade de São Paulo em 11 de fevereiro de 1907. Faleceu na mesma cidade em 23 de novembro de 1990, aos 83 anos.

Terceiro entre os quatro filhos de Caio e Antonieta Silva Prado (Eduardo, Yolanda, Caio e Carlos), teve, como seus irmãos, formação escolar esmerada. Iniciou os estudos em casa, orientado por professores particulares, como era comum entre as elites daquela época. Em 1918, ingressou no Colégio São Luís, dos jesuítas, que neste mesmo ano se mudara da cidade de Itu para a Capital, instalando-se na Avenida Paulista. Caio nele permaneceu até a conclusão de sua formação secundária, havendo apenas um interregno de um ano. Em razão de doença que acometera um de seus irmãos, Caio e sua família, em 1920, passaram uma temporada na Inglaterra, onde freqüentou o Colégio Chelmsford Hall, em Eastbourn.

Entre 1924 e 1928, estudou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, tornando-se bacharel em ciências jurídicas e sociais aos 21 anos. Logo depois de formado, passou a exercer a advocacia, mas apenas por alguns anos. Foi na Faculdade de Direito que iniciou sua preparação crítica no ensaísmo político. Como ressaltou o historiador Paulo Martinez, “as particularidades desta formação superior constituíram o ponto de partida de uma vasta obra, guardando marcas ao longo de toda sua trajetória de vida”.

Em 1928, em parte por influência de seu pai, que não tolerava o Partido Republicano Paulista (PRP), em parte indignado com a fraude promovida pelo PRP nas eleições municipais de outubro daquele ano, ingressou no Partido Democrático (PD), atuando no diretório de Santa Cecília. Essa agremiação partidária, fundada em 1926, reunia parte da elite de São Paulo descontente com a hegemonia do Partido Republicano Paulista, um dos principais sustentáculos da “política do café-com-leite”, que predominou no Brasil nas primeiras décadas do século XX. Destacando-se entre os fundadores do novo partido estava seu tio-avô Antônio Prado. Nesse partido, embora não ocupasse cargo de destaque, Caio Prado Junior participou como ativo militante, organizando o PD nos bairros e no interior do Estado, em serviços de rotina e em comícios, e, particularmente, nos acontecimentos que antecederam à chamada “Revolução de 1930”.

Decepcionado com a inconsistência política e ideológica da chamada “República Nova”, aproximou-se do marxismo e, em seguida, filiou-se ao Partido Comunista do Brasil (PCB) em 1931. Neste primeiro momento de sua militância comunista, além das ações mais corriqueiras como militante, dedicou-se às atividades de apoio e solidariedade aos presos e perseguidos pela repressão, exercidas através do Socorro Vermelho Internacional, e às atividades intelectuais, em especial na tradução do Tratado de Materialismo Histórico, de autoria de Nikolai Bukharin, editado em quatro volumes pelas Edições Caramuru em 1933 e 1934.

Sua condição de intelectual, aliada à sua conhecida independência frente aos cânones ideológicos, marcou quase que de modo permanente sua longa relação, nem sempre pacífica, com o PCB, como ele mesmo assinalou anos mais tarde: “Nunca pertenci à direção do Partido, nem tive nele grande prestígio ou influência. Sempre fui um elemento secundário e mal considerado, não em termos pessoais, mas por causa de minha maneira de interpretar o Brasil. Sempre fui muito marginalizado no Partido, pela oposição a seus esquemas políticos e econômicos, que eu considerava falhos no que diziam respeito ao Brasil”.

Juntamente com seu irmão Carlos, que era pintor, foi um dos membros do Clube de Artistas Modernos, que existiu entre 1932 a 1933 e para o qual redigiu seus estatutos e proferiu conferências.

Em 1933, Caio Prado Junior publicou A evolução política do Brasil. Nessa obra, editada às suas expensas, o jovem historiador buscou traçar a síntese da nossa evolução política, bem como fez uso de uma nova chave de interpretação científica – o materialismo dialético – para o entendimento do nosso passado e a elucidação dos fatos sociais que condicionavam o destino do país. Em Evolução política do Brasil, Caio Prado Junior fez trabalho de pioneiro e deixou claro um de seus principais objetivos a que se propôs: “Mostrar, num livro ao alcance de todo mundo, que também na nossa história os heróis e os grandes feitos não são heróis e grandes senão na medida em que acordam com os interesses das classes dirigentes, em cujo benefício se faz a história oficial”. Dito de outro modo: deslocou o foco da análise histórica para a ação política das camadas populares.

No mesmo ano de 1933, fez uma viagem de estudos à União Soviética, a fim de conhecer pessoalmente o que, de acordo com suas palavras, já havia estudado por meio de depoimento de terceiros. Expôs, no segundo semestre de 1933, o resultado de sua estadia de dois meses em extremamente concorridas conferências realizadas no Clube de Artistas Modernos, o que o motivou a escrever o seu segundo livro, U.R.S.S., um novo mundo, publicado em 1934 e cuja segunda edição, datada do ano seguinte, acabou sendo apreendida pela polícia.

Anos mais tarde, em 1962, lançaria outro livro com a mesma temática: O mundo do socialismo. Nele, não se mostrava muito interessado em relatar o que vira em visita que realizara, dois anos antes, à União Soviética e à China, mas, sim, “em descobrir as causas profundas de tudo o que viu e presenciou”.

De volta ao Brasil, cursou, em 1934, a recém-criada Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Embora sem concluí-los, participou de turmas dos cursos de história e geografia, em contato com os professores da missão francesa que deram início à universidade. Em 1934, foi um dos fundadores da Associação dos Geógrafos do Brasil, tornando-se em seguida um dos principais colaboradores da revista Geografia, mantida por essa associação[1].

A partir da chamada “Revolução de 1930”, a inserção das massas urbanas na cena política brasileira tornou-se um fato frente ao qual as elites políticas brasileiras se viram confrontadas. Esta nova conjuntura fez com que as forças políticas brasileiras chegassem a um efêmero e precário entendimento, que se materializou com a aprovação da segunda Constituição republicana, em 16 de julho de 1934. Ao mesmo tempo, os comunistas, após a ascensão de Adolf Hitler ao poder na Alemanha, viram que a orientação esquerdista do “terceiro período” os deixara isolados. Assim, a partir de 1934, passaram a reorientar sua política no sentido da constituição de frentes multipartidárias que agrupassem todas as forças políticas que se opusessem ao fascismo, as chamadas “frentes populares”, que foram consagradas como orientação geral dos partidos comunistas no VII Congresso da Internacional Comunista, em 1935.

No Brasil, o resultado dessa nova orientação antifascista foi o surgimento da Aliança Nacional Libertadora (ANL), que agrupava um variado espectro de forças sociais que se opunham ao governo Vargas, inclusive, é claro, os comunistas. Caio Prado Junior assumiu a vice-presidência regional da ANL em São Paulo, que teve como presidente o ex-comandante da Coluna Prestes, general Miguel Costa. Nessa função, realizou viagens, palestras, comícios, organizou diretórios municipais da ANL pelo Estado, além de redigir artigos publicados, sobretudo, pelo diário paulistano A Platéia, do qual foi um dos diretores.

Após um breve período de legalidade, a ANL foi enquadrada na Lei de Segurança Nacional, chamada de “Lei Monstro”, e fechada pelo governo em razão do apelo de “Todo Poder à ANL” feito em um manifesto divulgado em 5 de julho de 1935. Nos meses subseqüentes, a idéia de uma insurreição armada ganhou corpo e foi levada a cabo em fins de novembro, em Natal, Recife e Rio de Janeiro. O fracasso do movimento levou a uma imediata repressão política, marcadamente anticomunista, mas que atingiu uma ampla gama de opositores de Getulio Vargas, e que culminou com a aprovação do estado de sítio, sucessivamente prorrogado até junho de 1937.

Em decorrência de suas atividades à frente da ANL em São Paulo, Caio Prado Junior foi submetido a uma severa vigilância por parte da polícia política paulista e, após o desencadeamento da insurreição armada comunista, foi preso em dezembro de 1935, no Rio Grande do Sul, e trazido a São Paulo. Ficou preso, sem culpa formada, durante dois anos. Em abril de 1937, acabou denunciado por crime contra a segurança nacional, mas com a suspensão do estado de sítio, em junho de 1937, requereu um habeas-corpus que lhe valeu a liberdade. Imediatamente saiu do país, indo exilar-se na França. Ali, como militante do Partido Comunista Francês (PCF), atuou em tarefas de apoio e solidariedade aos combatentes republicanos na Guerra Civil Espanhola.

Frente à iminência do desencadeamento da II Guerra Mundial, Caio Prado retornou ao Brasil em 1939, pois também fora absolvido em dezembro de 1938 das acusações que sobre ele pesavam no Tribunal de Segurança Nacional. Após seu retorno, em plena ditadura do Estado Novo, sua militância político-partidária foi muito restrita, pois o PCB fora fortemente abalado pela repressão policial do regime ditatorial varguista. Com a entrada do Brasil na II Guerra Mundial, ao lado dos países aliados – e, portanto, da União Soviética –, foi possível ao PCB voltar a se organizar, o que ocorreu após a sua 2ª Conferência Nacional, realizada na serra da Mantiqueira, em agosto de 1943, na qual Luiz Carlos Prestes fora eleito secretário-geral in absentia, pois ainda estava preso. Nesse encontro, formou-se a Comissão Nacional de Organização Partidária (CNOP), sediada no Rio de Janeiro e tendo à frente o chamado “grupo baiano”, cujos principais expoentes eram Mário Alves, João Amazonas, Diógenes Arruda, Maurício Grabois e Pedro Pomar. No fundamental, o “Encontro da Mantiqueira” definiu a linha de atuação a ser seguida pelo PCB naquele momento: a guerra contra o Eixo exigiria, em nome da “união nacional”, o apoio ao ditador Getulio Vargas.

Essa reorganização não veio, no entanto, sem divergências. Em São Paulo e também no Rio de Janeiro, um grupo formado por Caio Prado Junior, Tito Batini, Zacharias de Sá Carvalho, Victor Konder, David Lerner, Heitor Ferreira Lima, Astrojildo Pereira e Mario Schenberg reuniu-se nos “Comitês de Ação” e defendeu uma luta aberta contra o “fascismo” do Estado Novo. Estes “Comitês” eram inspirados na ANL e teriam cogitado, posteriormente, de lançar o nome de Caio Prado Junior como candidato à presidência da República. Sua atuação nos “Comitês de Ação” o levaria a ser o principal elo de contato entre comunistas e liberais, nas articulações de uma frente contra o Estado Novo. Assim, o historiador veio a participar da reunião de fundação da União Democrática Nacional (UDN), tendo sido ele autor da sugestão que deu nome ao novo partido. No entanto, Luiz Carlos Prestes, ao sair da prisão em 1945, acabou definindo-se pela CNOP e suas teses, fazendo com que a disputa interna se decidisse em favor deste grupo. Alguns membros dos “Comitês de Ação” não se conformaram com a decisão e decidiram ingressar na Esquerda Democrática, que mais tarde daria origem ao Partido Socialista Brasileiro. Caio Prado Junior, no entanto, manteve-se fiel ao PCB.

Ao lado da militância política, retomou sua produção intelectual nos anos 1940, por meio de artigos, prefácio e, particularmente, pela publicação de Formação do Brasil contemporâneo, em 1942. Este livro, ao lado de Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, e Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, foi considerado uma obra chave para todos aqueles que aprenderam a refletir e a se interessar pelo Brasil, pois expressava “a mentalidade ligada ao sopro de radicalismo intelectual e análise social que eclodiu depois da Revolução de 1930 e não foi, apesar de tudo, abafado pelo Estado Novo”[2]. Parte de um projeto inconcluso, Formação do Brasil contemporâneo, para chegar a uma interpretação do Brasil de então, concentrou-se em um período entre o fim do século XVIII e a primeira década do século XIX, no qual ocorrera o declínio do sistema colonial e foram dados os primeiros passos de afirmação da nacionalidade brasileira. Para Caio Prado Junior, estavam neste corte as bases de um processo histórico que se prolongava até então e não estava terminado e que ainda trazia as marcas do seu passado: “Os problemas brasileiros de hoje, os fundamentais, pode-se dizer que já estavam definidos e postos em equação há 150 anos atrás. E é da solução de muitos deles, para que nem sempre atentamos devidamente, que depende a de outros em que hoje nos esforçamos inutilmente”.

Em 1945, publicou História econômica do Brasil. Nesse livro, retomou a análise empreendida em Formação do Brasil contemporâneo, em relação ao período colonial. Procurou, no entanto, resumir as características da colonização brasileira, assinalando em sua base a existência de um tripé alicerçado no latifúndio, na monocultura e na escravidão. Nesse volume, o historiador tratou também dos aspectos econômicos do Império e da República, realizando uma síntese dessa matéria.

Nos últimos anos do Estado Novo, envolveu-se na atividade editorial. Em 1943, com José Bento de Monteiro Lobato e Arthur Neves, participa da revista Hoje – O Mundo em Letra de Forma. Ainda em novembro desse ano, fundou a Gráfica Urupês e a Editora Brasiliense, tendo como sócios seu pai, Leandro Dupré, Hermes Lima e Arthur Neves. Em fevereiro de 1946 a eles iriam se juntar outros oito novos sócios, entre eles Monteiro Lobato. A Brasiliense foi uma editora que deu forte ênfase às ciências sociais, particularmente voltadas para a interpretação dos problemas do Brasil. Além dessas obras, a editora lançou as obras completas dos escritores Lima Barreto, Maria José Dupré e Monteiro Lobato.

O ano de 1945, com a evidente proximidade da derrota final de Alemanha, Itália e Japão e a intensificação dos protestos populares contra o governo brasileiro, deixou clara a derrocada do Estado Novo do ditador Getulio Vargas, que acabou ocorrendo com sua renúncia ao cargo de presidente em 30 de outubro. Em meio a isso, os comunistas brasileiros ressurgiram abertamente na cena política do país. O PCB requereu ao Tribunal Superior Eleitoral o seu registro em setembro de 1945, conquistando-o de forma definitiva em 10 de novembro de 1945. O partido voltava a atuar na legalidade depois de 18 anos de clandestinidade. Tal situação atraiu um imenso contingente para suas fileiras. Entre estes estava um grande número de escritores, jornalistas e professores universitários, como os escritores Jorge Amado, Graciliano Ramos e Álvaro Moreira, o pintor Cândido Portinari, o físico e professor Mario Schenberg, o jornalista Aparício Torelli, o arquiteto Oscar Niemeyer e Caio Prado Junior, muitos dos quais iriam candidatar-se por sua legenda nas eleições de 1945 e 1947.

Em janeiro de 1945, Caio Prado Junior participou do I Congresso Brasileiro de Escritores, na cidade de São Paulo. Seus participantes, além de terem discutido questões relativas à profissão, trouxeram à tona a disposição de uma parte significativa da intelectualidade de se colocar de forma inequívoca em oposição ao Estado Novo. Integrando sua comissão de assuntos políticos, coube a Caio Prado Junior, com Prado Kelly, a responsabilidade pela redação final da “Declaração de Princípios” do encontro, que marcou o compromisso dos escritores com a defesa da volta ao estado de direito, a defesa do sufrágio universal e o pleno exercício da soberania popular.

Nessa conjuntura, a influência de Caio Prado Junior nas articulações para a derrubada do Estado Novo pode ser aquilatada em um relatório de um de seus informantes, o qual avaliava que ele seria o último “elemento” capaz de “coligar todas as esquerdas do Brasil”.

Em outubro de 1945, participou da criação do jornal Hoje, órgão oficial do PCB no estado, do qual seria ativo colaborador e seu principal acionista. Para a montagem do jornal, cedeu parte do imóvel onde estava instalada a editora de sua propriedade.

Nas eleições de dezembro de 1945, concorreu a uma vaga de deputado federal constituinte pela legenda do PCB e obteve 9.304 votos, o que o qualificou como terceiro suplente. Em 1947, saiu vitorioso para deputado estadual nas eleições de 19 de janeiro, para deputados estaduais constituintes, senador e governador, obtendo 5.257 votos. Nestas eleições, o PCB, quinze dias antes do pleito, oficializara sua aliança com o Partido Social Progressista (PSP), de Adhemar de Barros, apoiando sua candidatura a governador. O candidato do PSP, em uma troca pública de cartas com o PCB, se comprometera a defender a Constituição, respeitar a existência legal de todos os partidos e a agir contra a carestia e a inflação. Nas eleições para governador, Adhemar de Barros se elegeu com 35% dos votos – seguido pelos candidatos do PTB (30%), PSD (26%) e UDN (8%) –, sendo, com os duzentos mil votos urbanos do PCB, como assinalou o historiador norte-americano John D. French, o primeiro governador da história de São Paulo a ganhar as eleições devido ao apoio dos trabalhadores.

Nestas eleições, no âmbito de São Paulo, o PCB, com a eleição de onze deputados[3], tornou-se a terceira maior bancada na Assembléia Legislativa de São Paulo, antecedido pelo Partido Social Democrático – PSD (26 deputados) e pelo Partido Trabalhista Brasileiro – PTB[4] e seguido pelo PSP e pela UDN (ambos com nove cada um), pelo Partido Republicano (PR) com três, pelo Partido Democrata Cristão (PDC) com dois e pelo Partido de Representação Popular (PRP) com um. Mas a aliança PCB-PSP não duraria muito tempo. Desde a posse de Adhemar de Barros, em março de 1947, o governo do general Eurico Gaspar Dutra, eleito pelo PSD, vinha pressionando, inserido no contexto da “guerra fria” – que levaria ao rompimento de relações diplomáticas com a União Soviética em outubro de 1947 –, pela cassação do registro legal do PCB, afinal decidida no início de maio. Com a ameaça de intervenção no Estado, Adhemar de Barros capitulou frente às pressões do governo Dutra, entrando em acordo com o PSD para se manter no poder sem seus aliados de esquerda. Mesmo assim, até as eleições municipais de novembro – as quais necessitava ganhar para ampliar seu controle sobre a máquina pública do Estado –, Adhemar de Barros manteve ainda uma ambígua relação com o PCB, alternando espasmos repressivos com acenos demagógicos, nos quais buscava insinuar que havia sido “forçado” a atacar os comunistas. Conquistado seu objetivo, Adhemar de Barros passou a reprimir violentamente os comunistas.

Caio Prado Junior, de acordo com depoimentos colhidos junto aos seus familiares, logo após sua eleição como deputado estadual, procurou, tanto in loco nas repartições públicas como por meio de uma ampliação de informações, incrementar sua visão sobre a máquina pública, de modo que pudesse dar respostas do ponto de vista administrativo, histórico e político, aos anseios de mudança que pulsavam naquele momento de transição da história política do Brasil. Tais preocupações já haviam tomado pouco antes, inclusive, a forma de coleção editada pela Editora Brasiliense, chamada “Problemas Brasileiros”, a qual tinha como objetivo proceder “não apenas a uma revisão geral dos diferentes aspectos econômicos, sociais e políticos do Brasil da atualidade, mas sobretudo a pesquisar, e, na medida do possível, indicar as soluções que reclamam os problemas nacionais” e sob um ângulo muito prático: “pôr ao alcance do grande público estudos capazes de o esclarecer e orientar, tornando possível para cada um formar opinião frente às necessidades e problemas brasileiros”[5]. Assim, além do profundo conhecimento que demonstrava a respeito dos assuntos que tratava, seus pronunciamentos em plenário eram verdadeiras aulas, que muito enriqueceram a Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Sua prolífica atividade parlamentar foi assim ressaltada por Florestan Fernandes: “Como deputado estadual, Caio era um homem que trabalhava de uma forma incrível. Acompanhando alguns dos trabalhos que ele fez na Assembléia Legislativa de São Paulo, fiquei admirado de constatar a dedicação com que ele se aferrava à pesquisa de fatos, para chegar à elaboração de lei. Era um deputado criativo, produtivo, invejável.”

A atuação parlamentar de Caio Prado Junior teve início com a instalação da Assembléia Constituinte do Estado de São Paulo, em sessão solene ocorrida no dia 14 de março de 1947, nas novas instalações do Legislativo Paulista, no Palácio das Indústrias, situado no Parque D. Pedro II, na Capital. Nesta data, foi definida a Mesa Diretora dos trabalhos constituintes[6] e empossado o governador eleito, Adhemar de Barros.

No dia 18 de março, foi constituída uma comissão com a finalidade de elaborar o Regimento Interno da Constituinte. Integrada por nove membros, com Caio Prado Junior a presidindo, concluiu seus trabalhos no dia 26 de março, quando o Regimento Interno foi votado e aprovado.

Em 1º de abril, foi criada a Comissão Especial de Constituição encarregada de elaborar o anteprojeto, analisar as emendas e redigir o texto final. Entre seus membros, pelo PCB, estavam Milton Cayres de Brito, líder da bancada comunista na Constituinte e que ocupou a vice-presidência da Comissão, e Caio Prado Junior. No dia 28 de abril, a Comissão Especial apresentou à Mesa o anteprojeto da Constituição, que foi distribuído ao plenário para apreciação e proposição de emendas. Ao final das discussões, a nova Constituição do Estado de São Paulo foi promulgada no dia 9 de julho de 1947.

A atuação da bancada comunista durante os trabalhos constituintes foi pautada por um programa mínimo divulgado em fins de novembro de 1946: “Uma Constituição democrática e progressista para São Paulo”. Dividido em sete tópicos, o programa do PCB preconizava, como linhas gerais de atuação de seus parlamentares, a defesa da soberania da Constituinte, a elaboração de uma constituição democrática e progressista, a responsabilidade perante o povo, a ratificação da nomeação dos secretários de Estado, a duração de dois anos de mandato para os deputados e a extinção da Polícia Política. No que se refere às medidas econômicas e financeiras, o programa comunista propunha o aumento geral de salários, estímulo à produção agrícola, terras para os camponeses, reforma dos contratos de arrendamento, combate ao “câmbio negro”, crédito agrícola a 3%, abastecimento e distribuição de gêneros alimentícios, defesa da indústria nacional, energia abundante e barata, revisão dos contratos da “Light” e “Bond and Share”, incorporação ao Estado dos trustes e monopólios, revisão do sistema tributário e equilíbrio orçamentário. Com respeito aos transportes, os comunistas enfatizavam a necessidade do reaparelhamento das vias férreas, a aplicação do “fundo de melhoramentos” de transporte, a exploração de todo o serviço ferroviário e a importação direta de caminhões. Em relação aos municípios, o programa do PCB propunha que estes recebessem, por parte do Estado, a garantia de empréstimos ou assistência técnica para a solução de seus problemas. No campo da educação e saúde, defendia-se o ensino gratuito, a melhor remuneração do professorado e a criação e a ampliação da rede de saúde. O amparo ao trabalhador aparecia em dois pontos: a defesa da habitação barata e a obrigatoriedade, por parte dos fazendeiros, de construir casas para os colonos. E, por fim, o programa dedicava dois pontos ao funcionalismo público: o reajuste de seus vencimentos e a efetivação dos extranumerários[7]. Nos trabalhos constituintes, este programa acabou sendo mais detalhado e tomou a forma de um anteprojeto.

Neste contexto, Caio Prado Junior apresentou ou subscreveu solidariamente um total de trinta e uma emendas ao Projeto de Constituição. Tais emendas, entre outras, eram referentes à duração de dois anos de mandato de deputado, à definição das inelegibilidades para cargos eletivos, à constituição de comissão para resolver sobre classificação e promoção de funcionários no âmbito do Ministério Público, ao enquadramento, em um plano geral, dos auxílios e subvenções, ao levantamento aerofotogramétrico do Estado, ao ensino gratuito, à extinção do DEOPS, à fiscalização da ação da polícia pela Promotoria Pública, à autonomia política para as estâncias hidrominerais, entre outras. Caio Prado Junior também deu vez à sua veia de historiador, quando propôs uma emenda deixando para que a legislação ordinária definisse como seria a bandeira paulista. O texto original do Projeto de Constituição falava em “tradicional bandeira”, referindo-se à aprovada em um decreto, o qual a definia com 13 listras. No entanto, em sua justificativa, o parlamentar pecebista lembrava que originalmente a bandeira paulista fora ideada por Júlio Ribeiro com 15 listras e que era necessária uma aprofundada discussão sobre o assunto, coisa que não cabia acontecer naquele momento.

Das emendas apresentadas por Caio Prado Junior ao Projeto de Constituição paulista, sete delas foram subscritas com parlamentares de outros partidos e as demais apenas pelos membros de sua bancada. Desse total, 16 acabaram sendo rejeitadas, duas prejudicadas, quatro aprovadas parcialmente (sendo que três delas foram subscritas com outros partidos) e nove aprovadas (duas com outros partidos).

Além do trabalho de defesa das próprias emendas, o parlamentar do PCB discutiu também questões referentes ao recenseamento geral e ao levantamento aerofotogramétrico do Estado, à criação e atribuições dos Tribunais Regionais, e ao Tribunal de Contas. Porém, indubitavelmente, durante os trabalhos constituintes a atuação mais destacada de Caio Prado Junior deu-se na discussão sobre o regime tributário. Naquela ocasião, discutia-se qual deveria ser a principal fonte de arrecadação do Estado: se o Imposto de Vendas e Consignações (IVC), que formava cerca de 70% da receita tributária, ou o Imposto Territorial (IT), cujo peso na arrecadação estava em torno de 3%. Ao longo de várias intervenções, o parlamentar comunista buscou demonstrar o que, segundo ele, constituía-se num dos maiores problemas do IVC: a injustiça tributária. Caio Prado Junior não concordava com a maneira que este imposto vinha sendo cobrado, pois, apesar de geral, gravava, sobretudo, as classes trabalhadoras. Além disso, os empresários acrescentavam-no como custo no momento em que calculavam suas margens de lucro, quadro este que resultava em uma taxação abusiva, sobrecarregando os centros urbanos e a produção industrial. Argumentava, ainda, que o IVC onerava o pequeno comerciante em razão das suas exigências de escrituração. Para fazer frente a tais problemas, o parlamentar comunista propunha medidas tais como: a correção nas tabelas dos impostos de transmissão inter vivos e causa mortis, taxando as maiores transações; um aumento da taxa de contribuição de melhoria, especialmente às margens das rodovias; e a efetiva cobrança do IT – de caráter progressivo e com uma alíquota máxima de 7% –, com a atualização de seus valores venais, subsidiada por estudos visando ao exato conhecimento do número de imóveis rurais. Esta proposta em relação ao IT não atingiria os pequenos produtores, pois as áreas inferiores a nove alqueires não sofreriam tributação. Como resultado da implementação de suas propostas, Caio Prado Junior afirmava que o IT seria um incentivador do loteamento de terras. A soma desses tributos, em sua avaliação, compensaria largamente a receita do IVC. Tais propostas foram atacadas principalmente pelas bancadas vinculadas aos grandes proprietários de terra, que conseguiram impedir a progressividade do IT e a extinção do IVC.

Findos os trabalhos constituintes, iniciaram-se os trabalhos ordinários dos deputados paulistas. Caio Prado Junior integrou a Comissão Permanente de Constituição e Justiça, ocupando o cargo de vice-presidente, além de novamente compor na Comissão do Regimento Interno, a fim de adaptá-lo aos trabalhos legislativos ordinários. Também atuou, por designação, como relator e membro substituto nas Comissões Permanentes de Finanças e Orçamento e de Redação e, ainda, integrou uma Comissão Especial instituída com o objetivo de apurar acontecimentos que tiveram lugar nos arredores do prédio da Assembléia em 1º de dezembro de 1947 [8]. Além disso, passou a ocupar a liderança da bancada de seu partido na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Neste período apresentou projetos de lei – tanto como autor principal como subscrevendo seu apoio – que tratavam de matérias tais como: levantamento aerofotogramétrico do Estado de São Paulo; modificações na Lei Orgânica dos Municípios; criando uma Escola de Filosofia, Ciências e Letras em Taubaté; dando caráter eletivo à constituição da Justiça de Paz no Estado; apoio financeiro à pesquisa científica, por meio da instituição da Fundação de Pesquisas Científicas.

Nesta última iniciativa, em particular, em razão da aprovação do artigo na Constituição que estabelecia o amparo do Estado à pesquisa científica, o parlamentar do PCB deixava clara a importância dessa medida: uma “completa transformação da vida cultural, e direi mesmo, econômica e social do nosso Estado, e, por conseqüência, do Brasil”. Para isso, propunha que pelo menos 0,5% da receita ordinária fosse destinada, sob a forma de auxílios, bolsas e subvenções, ao financiamento de pesquisas científicas que necessitassem ir além das verbas e dos recursos normais de que dispunham os órgãos pesquisadores. A administração da Fundação de Pesquisas Científicas caberia a uma diretoria eleita por um conselho, o qual seria composto de representantes dos principais órgãos científicos do Estado de São Paulo, tanto públicos como privados, e entidades de classe de reconhecida idoneidade, que lhe garantisse a mais ampla autonomia, evitando, como ressaltava Caio Prado Junior, “interferência de ordem política ou outras, que possam desviar a fundação de seus objetivos, permitindo-lhe realizar, plenamente, o grande programa que terá à sua frente”. Embora elogiado de modo geral, até pelo diário O Estado de S. Paulo – órgão sabidamente avesso ao comunismo –, o fato de ter sido de iniciativa de um parlamentar pertencente ao PCB fez com que fosse apresentado um substitutivo que buscava aproveitar, ao invés de se criar um novo organismo, os já existentes Fundos Universitários de Pesquisa e introduzia mudanças na estrutura de funcionamento proposta por Caio Prado Junior, em particular na composição de seu Conselho Geral, visando especialmente as entidades de representação de classe. Com a cassação dos mandatos dos deputados comunistas e com a entrada de uma nova proposta oriunda do Executivo, a discussão sobre o assunto estancou e somente anos depois a iniciativa foi retomada em outros moldes e, em 18 de outubro de 1960, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo foi criada.

Sua condição de líder da bancada comunista fez com que Caio Prado Junior conquistasse uma maior projeção nos trabalhos legislativos, bem como uma destacada intervenção em uma série de questões. Além da retomada, sob novas abordagens, da questão tributária, do levantamento aerofotogramétrico do Estado, do Tribunal de Contas, sobre a situação do funcionalismo estadual, houve um grande volume de pronunciamentos de Caio Prado Junior voltados para a questão da quebra da normalidade institucional do país que, sob o influxo da chamada “guerra fria”, se refletiu tanto no processo de ilegalização da legenda comunista como no da cassação dos mandatos de seus parlamentares.

Após a cassação do registro do PCB, o líder da maioria do governo Dutra, o senador catarinense Ivo de Aquino, apresentou um projeto dispondo sobre a extinção dos mandatos dos parlamentares eleitos por sua legenda em todas as câmaras legislativas do Brasil. Aprovado em primeira e segunda votações no Senado em outubro de 1947, o projeto foi aprovado na Câmara dos Deputados em 7 de janeiro de 1948 e levado à sanção do presidente Eurico Gaspar Dutra na mesma data. Com isso, todos aqueles eleitos pelo PCB em todo o país perderam seus mandatos, o que também ocorreu na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo no dia 12 de janeiro, encerrando-se, desse modo, sua atuação.

Com o PCB na ilegalidade, Caio Prado Junior foi preso, juntamente com vários membros da bancada comunista, durante três meses, logo depois da perda de seu mandato parlamentar, em razão da publicação de um manifesto contra uma possível intervenção federal em São Paulo. Após deixar a prisão, voltou-se para as atividades da Editora Brasiliense, dedicando-se em igual medida aos afazeres intelectuais, concentrando-se nos estudos de filosofia e economia. Também foi membro da Comissão de Redação da revista cultural Fundamentos, na qual publicou vários artigos e sobre a qual o PCB detinha influência.

Em 1954, candidatou-se à Cátedra de Economia Política da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Conhecendo-se bem o conservadorismo das faculdades de Direito, bastante vivo então na de São Paulo, era de se prever que a tese por ele apresentada, Diretrizes para uma política econômica brasileira, não fosse aprovada. Porém, na disputa com vários candidatos, não tiveram coragem em reprová-lo e lhe concederam o título de livre-docente. Nesta tese, a propósito, fez questão de deixar consignada a maneira pela qual sua paixão, que vinha desde a juventude, por viagens – que também sempre se faziam acompanhar de uma farta documentação fotográfica reunida em seus álbuns – se entrelaçou com seu trabalho científico: “Aliás, a nossa história, e particularmente a nossa história econômica, é antes uma sucessão de episódios muito semelhantes, de ciclos que se repetem monotonamente no tempo e no espaço. E continuam repetindo-se. Essa a razão por que afirmei anteriormente ser a nossa história um Presente de nossos dias. Para observá-la, é muitas vezes preferível uma viagem pelas nossas diferentes regiões, à compulsa de documentos e textos. O tempo se projetou aqui no espaço, facultando ao historiador um método original de pesquisa; como o espaço se define pelo tempo, concedendo ao sociólogo e ao economista, tanto como ao geógrafo, um ponto de vista temporal particularmente fecundo”.

Em setembro de 1955, lançou a Revista Brasiliense. Em sua “declaração de fundação”, definiu seus objetivos: “examinar e debater os nossos problemas econômicos, sociais e políticos” e encará-los “do ponto de vista dos interesses nacionais, da melhoria das condições de vida do povo e da renovação e dos progressos da cultura, como expressão autêntica da vida brasileira”, tornando-se, portanto, “um centro de debates e de estudos brasileiros, aberto à colaboração de todos os que já se habituaram ou se disponham a abordar seriamente esses assuntos e nela terão o meio não só de tornar conhecidos os seus trabalhos, como também de influir sobre a opinião pública levando-a a melhor compreender os problemas que afetam a vida do país”. Entre seus colaboradores, atuando nos mais variados campos do conhecimento humano, encontravam-se Manoel Correia de Andrade, Francisco de Assis Barbosa, Jean Claude Bernadet, Catullo Branco, Octavio Brandão, Antônio Cândido, Fernando Henrique Cardoso, Édson Carneiro, Edgard Carone, Josué de Castro, Afrânio Coutinho, Elias Chaves Neto (que era o diretor responsável), Michel Debrun, Everardo Dias, Régis Duprat, Álvaro de Faria, Florestan Fernandes, Joaquim Câmara Ferreira, Luís Roberto Salinas Fortes, Gianfrancesco Guarnieri, Andrew Gunder Frank, José Arthur Gianotti, Edgar A. Graeff, Octavio Ianni, Gerard Lebrun, Hermes Lima, Michael Löwy, Heitor Ferreira Lima, José de Souza Martins, Astrojildo Pereira, Luiz Pereira, Paulo F. Alves Pinto, M. Cavalcanti Proença, Maria Isaura Pereira de Queiroz, José Albertino Rodrigues, Herbert José de Souza e Moisés Vinhas.

Na opinião de um de seus colaboradores, Heitor Ferreira Lima, a Revista Brasiliense foi um marco de seu tempo: “era órgão de imprensa de vanguarda, sem qualquer vínculo com grupos ou interesses mesquinhos. Daí a sua grande repercussão, sendo muito bem recebida em todo o território nacional. Pode-se dizer mesmo que marcou época nos anais da nossa cultura”.

A Revista Brasiliense tornou-se o principal escoadouro da produção intelectual de Caio Prado Junior. Nela, publicou editoriais sobre a conjuntura política nacional e internacional, resenhas de livros e artigos, entre outros, sobre a presença do capital estrangeiro no Brasil, sobre a política econômica brasileira, sobre o nacionalismo e sobre a questão agrária. Estes últimos, em 1979, foram reunidos na obra A questão agrária no Brasil. Aqui criticou determinadas teses defendidas pelo PCB, sobretudo no que diz respeito à teoria dos “resíduos feudais” – que apontava a permanência do latifúndio como principal entrave da economia brasileira e tornava a reforma agrária um item de especial importância em seu direcionamento programático – e à aliança do partido com os setores progressistas da burguesia nacional, que estariam representados nos governos de Juscelino Kubitschek e João Goulart.

Em 1964 – quando, com o seu número 52, já pronto para ser impresso, teve sua composição destruída e os originais confiscados – foi extinta por ordem do regime militar instalado no país em abril, após a deposição do presidente João Goulart (1961 – 1964) e Caio Prado Junior foi detido pelo DEOPS-SP. A partir de então, tanto Caio Prado Junior como a Editora Brasiliense e sua livraria foram sistematicamente perseguidos pela repressão, sendo rotineiros as prisões, apreensões e depoimentos.

Em 1966 publicou uma de suas mais polêmicas obras: A revolução brasileira. Neste livro buscou analisar as perspectivas econômicas e políticas daquela conjuntura histórica. Em tal exame destacava os erros cometidos pelo PCB. Estes eram resultado, a seu ver, da apropriação de “modelos estranhos e inaplicáveis” à realidade brasileira. “É em grande parte o desconhecimento ou desconsideração das verdadeiras condições do país que explica os desacertos cometidos e revezes sofridos no passado.” Foi a primeira reflexão de peso produzida por um militante de esquerda em relação ao fracasso político de 1964 e teve uma enorme repercussão à época.

A repercussão de A revolução brasileira foi tão grande que Caio Prado, em 1966, foi distinguido com o troféu “Juca Pato” destinado ao intelectual do ano. Este prêmio, mantido e criado em 1962 pela União Brasileira de Escritores – seção de São Paulo –, é destinado àqueles que, com sua obra, contribuíram para o debate das idéias. Em seu discurso de agradecimento, feito em 28 de março de 1967, além de deixar claras suas divergências com a orientação dos governantes de então, Caio Prado Junior realçou as características que julgava essenciais aos intelectuais: “Refiro-me ao intelectual atuante, ao homem de pensamento que não se encerra em torre de marfim, e daí contempla sobranceiro o mundo. E sim aquele que procura colocar o seu pensamento a serviço da coletividade em que vive e da qual efetivamente participa. E é justo o critério que norteia a concessão do prêmio Juca Pato, pois é sobretudo de homens de pensamento, que sejam também homens de ação, que o Brasil necessita. E necessita hoje mais que nunca, neste momento que vivemos, quando parecem coincidir um máximo de necessidades e aspirações do povo brasileiro, a exigirem amplos horizontes e perspectivas, com o projeto, bem marcado e abertamente proclamado pelas atuais forças dominantes no país, de limitar aquelas perspectivas e encerrá-las na tutela de um estreito horizonte”.

Em 1968, escreveu História e desenvolvimento, tese com a qual pretendeu – instado por amigos e, particularmente, por Sérgio Buarque de Holanda, antigo titular da cadeira e que pretendia que ele o sucedesse – concorrer para a livre-docência de História do Brasil na Universidade de São Paulo. No entanto, com a decretação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968 e, em seu caso particular, de um decreto-lei de 29 de abril de 1969 que o “aposentara” na condição de livre-docente na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, não foi possível atingir esse objetivo. Este decreto-lei continha, na verdade, uma grave incorreção. Caio Prado Junior, assim como mais cinco nomes que constavam da lista presente no decreto, não tinha cargo na Universidade de São Paulo. Possuía apenas o título de livre-docente, que lhe dava o direito de concorrer ao concurso de cátedra. A tese acabou sendo publicada ainda naquele ano. Nela, Caio Prado Junior criticava a política econômica vigente em razão de estar inspirada em modelos analíticos pensados para os países de avançado grau de desenvolvimento econômico, não se prestando a ser aplicada em países como o Brasil, o qual não possuía formas capitalistas amadurecidas. O autor advogava que o processo sócio-econômico específico do Brasil era a baliza que orientaria o levantamento dos seus problemas, seu equacionamento e a proposição de soluções.

Em 1968, foi indiciado em um Inquérito Policial-Militar (IPM) perante o Conselho Permanente de Justiça da 2ª Auditoria da 2ª região Militar, sob alegação de haver dado uma entrevista a uma revista universitária “incitando o público à Guerra e à subversão da ordem político-social”. Para escapar à prisão, refugiou-se no Chile, onde então estavam muitos exilados brasileiros. Retornou ao Brasil, apresentando-se ao julgamento no Tribunal Militar em março de 1970. Condenado a quatro anos de prisão foi recolhido à Casa de Detenção Tiradentes, onde ficou preso até 1971. Transferido nesse mesmo ano para o quartel de Quitaúna, foi levado novamente a julgamento, sendo dessa vez absolvido por unanimidade. Durante este recolhimento forçado, Caio Prado Junior elaborou dois textos dedicados ao exame das concepções estruturalistas, então em voga no Brasil, e que julgava retrógradas e deformadoras do marxismo. Estes textos foram reunidos em volume publicado em 1971 (O estruturalismo de Levi-Strauss e O marxismo de Louis Althusser).

Afastado de uma militância política mais intensa há alguns anos, em 1988 recebeu o Prêmio Almirante Álvares Alberto para Ciência e Tecnologia para 1987, concedido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e o CNPq, na área de ciências humanas. Sem condições de ir recebê-lo pessoalmente, pois já estava bastante doente, o prêmio foi entregue à sua filha Yolanda Prado. Neste mesmo ano, entre 26 e 28 de maio realizou-se, no campus de Marília da Universidade Estadual Paulista (UNESP), a II Jornada de Ciências Sociais dedicada a Caio Prado Junior. Dezenas de estudiosos dedicaram-se a resgatar, rever e analisar a contribuição de Caio Prado Junior e cujo resultado foi publicado em livro.

Casou-se em primeiras núpcias, em 1929, com Hermínia Ferreira Cerquinho (Baby), com quem teve dois filhos: Yolanda (1929) e Caio Graco (1931-1992). Em segundas núpcias, no ano de 1942, casou-se com Maria Helena Nioac, com quem teve o seu terceiro filho, Roberto (1945-1970). Teve ainda um terceiro casamento com Maria Cecília Naclério Homem.

Além das obras citadas anteriormente, escreveu Dialética do conhecimento (1952), Esboço dos fundamentos da teoria econômica (1957), Notas introdutórias à lógica dialética (1959), O que é liberdade? (1980), O que é filosofia? (1981), A cidade de São Paulo, geografia e história (1983).

Divisão de Acervo Histórico

Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo

Fontes

  • ABREU, Alzira Alves de et alii. Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930 (5 vols.). 2ª ed. Rio de Janeiro, Editora FGV, 2001.
  • BINZER, Ina von. Os Meus Romanos – alegrias e tristezas de uma educadora alemã no Brasil. 6ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1994.
  • BRANCO, Catullo. Conversa entre amigos (Memórias). S.l., mimeo, 1986.
  • Candidatos do povo: Caio Prado Junior. Hoje. São Paulo, 20/11/1945, p. 6 e 8.
  • CÂNDIDO, Antônio. O significado de Raízes do Brasil, In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 7ª ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1973.
  • FRENCH, John. A ascensão do populismo ademarista em São Paulo – 1946/1947. São Paulo, IDESP, 1987.
  • GORENDER, Jacob. Do pecado original ao desastre de 1964, In: D’INCAO, Maria Ângela (org.). História e ideal: ensaios sobre Caio Prado Junior. São Paulo, Brasiliense / Editora da UNESP / Secretaria de Estado da Cultura, 1989, p. 259-269.
  • HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil (Sua história). São Paulo, T. A. Queiroz / Edusp, 1985.
  • IGLÉSIAS, Francisco. Um historiador revolucionário, In: IGLESIAS, Francisco (org.). Caio Prado Junior: História. São Paulo, Ática, 1982, p. 7-44.
  • IUMATI, Paulo Teixeira. Diários políticos de Caio Prado Junior: 1945. São Paulo, Brasiliense, 1998.
  • LAPA, José Roberto do Amaral. Caio Prado Junior: Formação do Brasil contemporâneo, In: MOTA, Lourenço Dantas (org.). Introdução ao Brasil. Um banquete no trópico. São Paulo, Senac, 1999, p. 257-272.
  • LEVI, Darrell E. A Família Prado. São Paulo, Cultura 70, 1977.
  • LIMA, Heitor Ferreira. Revista Brasiliense: sua época, seu programa, seus colaboradores, suas campanha, In: MORAES, Reginaldo, ANTUNES, Ricardo e FERRANTE, Vera B. (orgs.). Inteligência brasileira. São Paulo, Brasiliense, 1986, p. 179-192.
  • LONZAR, William e BÁRTOLI, Valdir Vicente. A Constituinte paulista de 1947, In: BÁRTOLI, Valdir Vicente (org.). Processo Constituinte Paulista. São Paulo, FUNDAP, 1989, p. 21-40.
  • MARTINEZ, Paulo Henrique. A dinâmica de um pensamento crítico: Caio Prado Junior (1928-1935). São Paulo, 1998. Mimeogr. (Tese, Departamento de História da FFLCH-USP)
  • MAZZO, Armando. Memórias de um militante político e sindical no ABC. São Bernardo do Campo, Secretaria de Educação, Cultura e Esportes, 1991.
  • MÉDICI, Ademir. 9 de novembro de 1947: A vitória dos candidatos de Prestes. Santo André, Fundo de Cultura do Município, 1999.
  • MOTA, Lourenço Dantas, FERREIRA, Oliveiros S. e MARTINS, Carlos Estevam. Caio Prado Junior: É preciso deixar o povo falar. In: MOTA, Lourenço Dantas (org.). A história vivida. Volume I. São Paulo, O Estado de S.Paulo, 1981, p. 300-320.
  • MOTOYAMA, Shozo (org.). FAPESP: Uma história de política científica e tecnológica. São Paulo, FAPESP, 1999.
  • NOVAIS, Fernando A. Caio Prado Jr. na historiografia brasileira, In: MORAES, Reginaldo, ANTUNES, Ricardo e FERRANTE, Vera B. (orgs.). Inteligência brasileira. São Paulo, Brasiliense, 1986, p. 9-26.
  • PINHEIRO, Paulo Sérgio. O ano de 1945. Jornal de Resenhas. São Paulo, 11/07/1998, p. 3.
  • PRADO JUNIOR, Caio. Caio Prado Junior e o “Juca Pato”. São Paulo, Arquivo do Estado, 1983.
  • _____. Diretrizes para uma política econômica brasileira. São Paulo, Urupês, 1954.
  • RICUPERO, BERNARDO. Caio Prado Jr. e a nacionalização do marxismo no Brasil. São Paulo, Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo/FAPESP/Ed. 34, 2000.
  • SACCHETTA, Vladimir et alii. Monteiro Lobato: Furacão na Botocúndia. São Paulo, Senac,1997.
  • SANTOS, Raimundo. Caio Prado Junior na cultura política brasileira. Rio de Janeiro, MAUAD / FAPERJ, 2001.

[1] Para maiores detalhes sobre a passagem de Caio Prado Junior pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo ver o Capítulo III (“Admirável Mundo Novo (1934-1935)”, às p. 186-259) da obra de Paulo Henrique Martinez.

[2] Antônio Cândido. O significado de Raízes do Brasil (Prefácio de: Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil. 7ª ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1973), p. XI.

[3] – A bancada do PCB que tomou posse em 15 de março de 1947 era composta, além de Caio Prado Junior, pelo marceneiro Armando Mazzo, pelo engenheiro eletricista Catullo Branco, pelo ex-militar e comerciário Clóvis de Oliveira Neto, pelo portuário Estocel de Moraes, pelo tecelão João Sanches Segura, pelo professor João Taibo Cadorniga, pelo ex-militar e técnico em borracha Lourival Costa Villar, pelo metalúrgico Mautílio Muraro – que renunciou ao mandato em 08/11/1947 -, pelo médico Milton Cayres de Brito e pelo tecelão Roque Trevisan. Ao longo do tempo também tomaram posse os seguintes suplentes: a contadora Zuleika Alambert, o ferroviário Celestino dos Santos e o professor e físico Mario Schenberg.

[4] – Mais tarde transformou-se na segunda bancada, pois, em razão da expulsão de Hugo Borghi, que havia sido o candidato a governador nas eleições de janeiro de 1947, o PTB cindiu-se e sete de seus quatorze deputados mudaram para o Partido Popular Trabalhista, criado em 15 de abril.

[5] – Foram publicados, entre outros, nesta coleção: Diretrizes para uma política rural e econômica, de Paulo Pinto de Carvalho (com prefácio de Monteiro Lobato); Um programa de política exterior para o Brasil, de Renato Castelo Branco; Política alimentar, de F. Pompêo do Amaral (com prefácio de Caio Prado Junior); Apontamentos para uma reforma agrária, de Aguinaldo Costa; Siderurgia e planejamento econômico do Brasil, de Afrânio do Amaral (com prefácio de Caio Prado Junior); A constituição para o Brasil, de A. Moreira.

[6] – A Mesa foi assim composta: Valentim Gentil – PSD (presidente), Nélson Fernandes – PTB (1º vice-presidente), Rubens do Amaral – UDN (2º vice-presidente), Mário Beni – PSP (1º secretário), Catullo Branco – PCB (2º secretário), João Bravo Caldeira – Partido Republicano (3º secretário) e Alfredo Farhat – Partido Democrático Cristão (4º secretário).

[7] – O Partido Comunista apresenta o seu programa mínimo: Uma Constituição democrática e progressista para São Paulo. Hoje. São Paulo, 25/11/1945, p. 5.

[8] – Esta Comissão Especial tratava de averiguar os acontecimentos ocorridos entre a polícia e populares que foram à Assembléia Legislativa entregar abaixo-assinado contra a cassação de mandatos de parlamentares.

Publicidade

Lá vai Barão!

10 de fevereiro de 1012 marca o falecimento de José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco, foi um advogado, diplomata, geógrafo, professor, jornalista e historiador brasileiro.

Filho de José Maria da Silva Paranhos, o Visconde do Rio Branco, um dos maiores estadistas da história brasileira.

Entre várias atividades a mais principal foi como diplomata.  Em 1902 foi convidado pelo Presidente Rodrigues Alves  assumiu a pasta das Relações Exteriores, na qual permaneceu até a morte, em 1912. Logo no início de sua gestão, defrontou-se com a questão do Acre, território boliviano ocupado por brasileiros, solucionando-a amigavelmente pelo Tratado de Petrópolis, assinado em 1903. A seguir, encetou negociações com outros países limítrofes cujas fronteiras com o Brasil suscitavam questões litigiosas. Erigiu como bandeira das reivindicações o princípio do uti possidetis solis, e assim dirimiu velhas disputas do Brasil com quase todos os países da América do Sul.

José Maria da Silva Paranhos JúniorBarão do Rio Branco, nasceu no Rio de Janeiro, em 20 de abril de 1845 e morreu na mesma cidade em 10 de fevereiro de 1912. Mas imortalizado mesmo ficou na nota. A partir de 1970, tira-se o “novo” e volta a circular o cruzeiro, mas com uma nova cara. Nesse período, houve 14 notas diferentes, que variavam entre Cr$ 1 e R$ 100.000. A nota de Cr$ 1 estampava a efígie da República. A cédula de Cr$ 500 exibia figuras representativas da evolução étnica brasileira, numa sequência das diversas raças, por ordem de precedência histórica. Foi nesta época que circulou pelo país a nota de Cr$ 1.000 (mil cruzeiros). O rosto que estampava a cédula era do Barão do Rio Branco. Daí o motivo de até hoje muitas pessoas se referirem a mil reais como “um barão” .

102 anos sem Rosa Luxemburgo

Hoje, 15 de janeiro de 2022 completa 102 anos do assassinato da revolucionária pacifista, antimilitarista, defensora da democracia no seio da revolução, Rosa Luxemburgo.

Rosa, em polonês Róża Luksemburg, nasceu a 5 de março de 1871 num vilarejo de Zamość, perto de Lublin, na Polônia e é considerada a dirigente marxista mais importante da história. Um século depois de sua morte, sua vasta produção teórica continua viva e merece ser lida, principalmente nos dias atuais. Ela foi certeira em muita análise feita à sua época.

Seu legado ficou com o assim denominado “luxemburguismo”, uma escola marxista com características próprias: seu pacifismo, de homens livres, sua luta contra o revisionismo e a defesa da democracia no seio da revolução.

Para Rosa Luxemburgo não se trata primeiro de tomar o poder e só depois mudar o mundo que era uma corrente hegemônica da esquerda no século XX.:

“A democracia socialista não começa somente na Terra prometida, quando tiver sido criada a infraestrutura da economia socialista, como um presente de Natal, já pronto, para o bom povo que, entretanto, apoiou fielmente o punhado de ditadores socialistas. A democracia socialista começa com a destruição da dominação de classe e a construção do socialismo. Ela começa no momento da conquista do poder pelo partido socialista.”

Rosa Luxemburgo foi assassinada em 15 de janeiro de 1919, por soldados de uma milícia protofascista criada para reprimir os revolucionários. Rosa tinha 47 anos. Seu corpo, lançado ao canal Landwehr, que atravessa o Tiergarten (parque central de Berlim), só foi encontrado em 31 de maio e sepultado em 13 de junho daquele ano. 

Trecho fina de O Socialismo e as Igrejas – o comunismo dos primeiros cristãos de Rosa Luxemburgo. Coleção Zero/07 – Afrontamento – Porto, Portugal s/d

OBRAS DE ROSA LUXEMBURGO EM PORTUGUÊS E ESPANHOL

LUXEMBURG, Rosa. Introducción a la economia política. Córdoba: Pasado y Presente, 1972.

–––––. A crise da social-democracia. Lisboa: Presença, 1974.

–––––. Huelga de masas, partido y sindicatos. México: Ediciones Pasado y Presente, 1978.

Tradução brasileira: Greve de massas, partido e sindicatos. São Paulo: Kairós, 1979.

–––––. Debate sobre la huelga de masas. México: Ediciones Pasado y Presente, 1978. (Nesta publicação encontramos os seguintes artigos de Rosa Luxemburg: La causa de la derrota; Y por tercera vez el experimento belga; Y después qué? ).

–––––. Camarada e amante. Cartas de Rosa Luxemburg a Leo Jogiches. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

–––––. A questão nacional e a autonomia. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1988.

–––––. A acumulação do capital. São Paulo: Nova Cultural, 1988.

–––––. A revolução russa. Petrópolis: Vozes, 1991 (Nesta obra encontram-se os seguintes artigos com tradução de Isabel Loureiro: Questões de organização da social-democracia russa; A revolução russa; O que quer a Liga Spartakus?).

–––––. Reforma, revisionismo e oportunismo. Rio de Janeiro: Laemmert, 1970. (Sob este título encontra-se a primeira tradução brasileira de Reforma social ou revolução? feita por Lívio Xavier, e os seguintes apêndices: Os óculos ingleses; Discurso sobre a tática; Resposta ao discurso de Vollmar; A participação socialista do poder na França; A crise do movimento socialista na França; A greve geral).

–––––. Reforma ou revolução? São Paulo: Editora Expressão Popular, 1999 (republicação da tradução de Lívio Xavier).

OBRAS SOBRE ROSA LUXEMBURGO EM PORTUGUÊS

ARENDT, Hannah. Rosa Luxemburgo: 1871-1919. In: Homens em tempos sombrios. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

ETTINGER, Elzbieta. Rosa Luxemburgo. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.

GERAS, Norman. A actualidade de Rosa Luxemburgo. Lisboa: Edições Antídoto, 1978.

GUIMARÃES, Juarez (org.). Rosa, a vermelha. Vida e obra da mulher que marcou a história da revolução no século XX. São Paulo: Busca Vida, 1987. (Esta obra contém os seguintes textos de Rosa Luxemburg: O Folheto Junius, A revolução Russa, Contra a pena capital e A ordem reina em Berlim).

LOUREIRO, Isabel, VIGEVANI, Tullo. (org.). Rosa Luxemburg – a recusa da alienação. São Paulo: Editora UNESP/FAPESP, 1991.

LOUREIRO, Isabel. Rosa Luxemburg e Trotsky: a revolução russa de 1905. In: COGGIOLA, OSVALDO. Trotsky hoje. São Paulo: Editora Ensaio, 1994.

LOUREIRO, Isabel. Rosa Luxemburg – os dilemas da ação revolucionária. São Paulo: Editora UNESP, 1995.

LOUREIRO, Isabel. Lukács e Rosa Luxemburg. In: ANTUNES, Ricardo, LEÃO RÊGO, Walquíria. Lukács – um Galileu no século XX. São Paulo: Boitempo, 1996.

LOUREIRO, Isabel. Rosa Luxemburgo – vida e obra. São Paulo: Expressão Popular, 2000.

LÖWY, Michael. Método dialético e teoria política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975. (Nesta obra há dois ensaios excelentes sobre Rosa Luxemburg: Rosa Luxemburgo; A significação metodológica da palavra de ordem “Socialismo ou Barbárie”).

LUKÁCS, Georg. História e consciência de classe. Porto: Escorpião, 1974. (Encontramos nesta obra dois ensaios clássicos sobre Rosa Luxemburg: Rosa Luxemburgo, marxista; Notas críticas sobre a crítica da revolução russa de Rosa Luxemburgo).

NASCIMENTO, Cláudio. Rosa Luxemburgo e Solidarnosc. Autonomia operária e autogestão socialista. São Paulo: Loyola, 1988.

NEGT, Oskar. Rosa Luxemburgo e a renovação do marxismo. In: HOBSBAWM, E. (org.). História do marxismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984, v.3.

PEDROSA, Mario. A crise mundial do imperialismo e Rosa Luxemburgo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

SADER, Emir. Rosa Luxemburgo. In: O poder, cadê o poder? – Ensaios para uma nova esquerda. São Paulo: Boitempo, 1997.

Elogio de Robert Kurz

https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FRobert_Kurz&psig=AOvVaw0Q4GefVcYMWKlEesq5HnQ0&ust=1592869148406000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCIDkiJ6KlOoCFQAAAAAdAAAAABAJ

Elogio de Robert Kurz,

proferido em 26 de Julho de 2012
no cemitério Wöhrd em Nuremberga

Cara Roswitha,
Cara Senhora Kurz,
Caros parentes,
Caras amigas e amigos de Robert,

A notícia da morte de Robert chegou-me na viagem de regresso de férias. Fiquei sem palavras. Ao horror juntou-se a raiva pelo erro médico e pelo sofrimento de Robert, pelas feridas não cicatrizadas que foram sendo sucessivamente abertas, de modo que o seu corpo ficou marcado por ferimentos e lesões. Tudo isto misturado com a tristeza pela perda do seu pensamento bem próprio e inspirador, e sobretudo pela perda de um homem tornado para mim querido e precioso – apesar dos nossos poucos encontros –, um homem cujo pensamento era para o que vive. Tanto mais penso poder imaginar o que significa a morte de Robert para aqueles que lhe estão mais próximos.

À minha mudez juntou-se a reflexão sobre a importância de Robert para mim, um teólogo católico de esquerda, e sobre o que tenho de lhe agradecer. Ele moldou como ninguém nos últimos anos a minha visão de mundo, a minha reflexão e o meu compromisso. Tive de dizer adeus – e muitas vezes dolorosamente – a padrões de pensamento ainda familiares e vejo-me desafiado a repensar mesmo as categorias teológicas. Tornou-se para mim claro que a chamada teologia moderna não atinge a profundidade da análise categorial necessária para conseguir perceber as actuais ameaças de forma adequada. Acima de tudo, ela continua presa na afirmação do iluminismo – mesmo se assume a dialéctica do iluminismo na sua reflexão – e pensa poder juntar-se a um núcleo supostamente emancipatório do pensamento iluminista.

Comungo com Robert a exasperação com o sofrimento das pessoas através de uma história que se caracteriza como história de sofrimento. O desafio apresentado pelo sofrimento não é simplesmente intemporal, mas é sobretudo um problema histórico, o problema dos sofrimentos no e sob o capitalismo. Problema que não pode ser simplesmente resolvido – e as análises de Robert tornam isso bem claro – com moral ou com boa vontade. Pelo contrário, – na formulação de Adorno – o mal reside “nas relações que condenam as pessoas à impotência e à apatia, relações que elas deveriam modificar; e não reside primariamente nas pessoas e na forma como essas relações lhes surgem” (1).

O desafio do sofrimento humano não tornou Robert moralista, mas deu-lhe que pensar. Levou-o a uma análise que lhe permitiu reconhecer o que constitui o mal da situação na história do capitalismo: a valorização do valor como fim em si mesmo irracional, e – como ele assumiu do pensamento de Roswitha – a dissociação das actividades que servem para a reprodução da vida. Valor e dissociação constituem a dominação abstracta de um sujeito automático que condena as pessoas à impotência e à apatia. É importante distinguir entre o que é entendido categorialmente como essência do capitalismo no contexto formal de valor e dissociação, de trabalho abstracto, Estado, sujeito, etc., e o que pode ser descrito como suas manifestações. As alterações no plano das manifestações não atingem o contexto formal nem, portanto, a dominação abstracta. Com o reconhecimento desta, no entanto, ficam bloqueadas as vias da facilidade e do alívio. Fica bloqueada a fuga para a imediatidade tão estafada como simplista do activismo político ou da orientação de campanhas nos movimentos sociais. Não faz sentido invocar o trabalho bom contra o trabalho alienado, o Estado contra o mercado, o sujeito contra o objecto. Um pólo não é a solução para o outro, mas parte do problema a ser resolvido.

Responder de forma moralista e activista ao desafio do sofrimento das pessoas no capitalismo parecerá concreto. Na verdade, essa resposta é abstracta num mau sentido, pois abstrai da mediação objectiva que faz sofrer as pessoas na sua pele. Insistir na mediação objectiva do sofrimento dos seres humanos no capitalismo e, portanto, na indispensabilidade da teoria é tão lúcido que pode levar a qualificar a pessoa como Lúcifer. O portador da luz é transformado em Satanás. Quem traz a luz do conhecimento a um sistema de funcionamento cego sofre rejeição, difamação e hostilidade por parte daqueles que se agarram à pretensa segurança de categorias e estratégias de acção familiares, não conseguindo assim abandonar nem mesmo as ideias ilusórias e irracionais de superação do capitalismo dentro do capitalismo.

Não é por acaso que o pensamento de Robert também foi sempre perseguido pela ignorância e hostilidade, pelo sarcasmo e zombaria, bem como por acusações de afastamento da prática e de falta de comunicação. No entanto, Robert insistiu em procurar a verdade do que precisava de ser reconhecido. Ele resistiu – para usar as palavras de Adorno – “à compulsão quase universal de confundir a comunicação do conhecido com o conhecido e, eventualmente, dar mais importância à comunicação do que ao conhecido” (2). Ele insistiu em que “o critério do verdadeiro não é sua comunicabilidade imediata a qualquer um.” (3)

Resistir às inimizades e permanecer firme perante as hostilidades é sobretudo possível a pessoas no seu íntimo orientadas de maneira contemplativa – a contemplação entendida como tentativa persistente e resistente de ir até ao fundamento das relações, como expressão de vontade indomável de conhecimento teórico, ou seja, de conhecimento que tenha em vista a totalidade. Isto não é feito por amor de ganho de conhecimento privado, mas para levar o conhecimento aos outros ou, na linguagem do misticismo, contemplata aliis tradere, para levar aos outros o que foi contemplado. No interesse do conhecimento e da humanidade resta esperar que os conhecimentos que Robert nos deixou a nós e ao público possam ser apreendidos e desenvolvidos e obtenham o reconhecimento que a ele lhe foi negado muitas vezes em vida. Esperemos que ainda haja tempo de o pensamento de Robert se tornar frutífero, para pôr fim ao que ele descreveu como uma catástrofe que se está a tornar realidade.

Na teologia há um grande pressentimento de uma catástrofe iminente de desumanização e com ele a exasperação e quebra de um pensamento teológico fechado no idealismo, que mistura entre si conhecimento e sentido, que arranca do absurdo um sentido sob a coacção identitária idealista de tal modo que mesmo o sofrimento mais absurdo tem de ser declarado com sentido. J. B. Metz deu grande importância a este tema colocando no centro da sua teologia a questão de como, após a catástrofe de Auschwitz, a teologia pode continuar a ser desenvolvida, de como pode continuar a falar-se de Deus.

O horror perante o extermínio sistemático de pessoas torna-o sensível às ameaças da humanidade no presente. Ele fala do “desaparecimento do homem na modernidade ou na pós-modernidade” (4), de modo que o homem corre o risco de consentir “uma lógica evolutiva não humana, em que a história é em última instância substituída por leis de natureza económica…” (5). O que isto significa, essencialmente, tornou-se para mim claro no seu dramatismo ao encontrar aquilo que provoca a resistência mais violenta no pensamento de Robert: a teoria da crise. O que Metz designa por “uma lógica evolutiva não humana” (6), é a ‘lógica de crise’ do capitalismo que ameaça os seres humanos. As pretensas leis de natureza económica implicam aquele limite lógico interno e aquele limite ecológico externo que estão no centro da teoria da crise de Robert.

A crise do capitalismo, que actua diante dos nossos olhos cada vez mais severamente, empurra as pessoas para uma luta sem tréguas pela auto-afirmação na concorrência, em última instância para uma luta de todos contra todos pelas possibilidades que se extinguem de valorização da força de trabalho. As pessoas estão sob pressão de se valorizar constantemente ou serem excluídas como não-valorizáveis ficando no entanto ainda incluídas sob a dominação do trabalho. Robert repetidamente chamou a atenção para as estratégias bárbaras com que ameaça a gestão da crise ou que já se tornaram realidade nas regiões do globo em colapso. Sob o ditame da valorização todos os conteúdos – incluindo os do homem e do seu mundo – correm o risco de se tornar quantidades abstractas de valorização. É exactamente isto que torna o processo de valorização desprovido de conteúdo e o combina com um potencial duplo para a violência: ele visa a aniquilação do outro com a finalidade da auto-preservação a todo custo e, finalmente, a auto-aniquilação com a finalidade da execução da própria existência sem conteúdo.

Perante a destruição de seres humanos como fim em si mesmo tornada realidade em Auschwitz e perante as catástrofes actuais e iminentes, qualquer pensamento filosófico ou teológico, que pense poder afirmar pomposamente um sentido metafísico universal da história ou até apenas o sentido de uma vida puramente privada virando as costas à história de sofrimento dos seres humanos, tem de ficar sem palavras. E, no entanto, parece que a questão metafísica, como questão sobre a ultrapassagem dos limites, sobre a ultrapassagem dos limites históricos, mas também sobre a possível ultrapassagem dos limites estabelecidos com a finitude do ser humano, é uma questão impreterível. Na nossa situação histórica de ameaça para os seres humanos no e através da crise do capitalismo, não é uma simples questão sobre o sentido da história, mas uma questão sobre a possível salvação do ser humano em face da mortal ausência de perspectivas da gestão da crise capitalista.

No último evento em que pude participar na discussão com Robert o assunto era ‘o capitalismo como religião’. Robert deixou claro que com o capitalismo a transcendência já não legitima as condições sociais colocando-se acima delas, mas migrou para a imanência, precisamente para o processo de valorização do valor por amor de si mesmo. O capitalismo “engoliu, por assim dizer, a transcendência e transformou-a em sua própria e permanente transgressão.” (7)

Mas então – em linha com Nietzsche – Deus não estaria morto, mas sim migrado para a imanência da valorização abstracta do valor como fim em si mesmo. Ele estaria imanente a esse mundo ‘invertido’ em que o destino dos seres humanos está ligado para a vida e para a morte à produção de mercadorias como fim em si da acumulação de capital. Ele apenas morreria com este mundo e com o ser humano que nele está a ser destruído.

Será que a distinção entre transcendência e imanência ou, na linguagem teológica, a distinção entre Deus e os ídolos como imanência absolutizada inclui uma perspectiva de salvação? Transcendência seria aquilo que não pode ser reduzido ao conceito na lógica da identidade nem pode ser instrumentalmente valorizado. A proibição de imagens em sua forma teológica e filosófica protege essa transcendência. Ela não deveria ser pensada ‘para além’ da história, mas produzindo efeito na história, como uma questão em aberto e que abre uma imanência fechada à necessidade material e somática do ser humano e assim como questão a ser transcendida. Transcendência assim entendida marca uma diferença fundamental entre o mundo como ele é e como poderia ser.

Seria uma transcendência que nem sobreeleva o mundo como ele é nem se funde com ele. As tentativas de pensar assim a transcendência não caem do céu das ideias, mas têm suas raízes na experiência histórica. Biblicamente, são constituídas pelas experiências de sofrimento histórico, que clamam pela abolição das fronteiras: da experiência do sofrimento dos escravizados no Egipto, dos deportados sob o domínio babilónico, dos oprimidos sob o sistema de dominação grego até ao Messias crucificado por Roma. A transcendência articula-se no grito pela salvação. Este grito conduz à análise do que o provoca e permite questionar as possibilidades de abolição de todas as casas de escravos na história.

A questão metafísica da transcendência não se coloca apenas em relação à questão das possibilidades de abolir as fronteiras da história. Ela surge não apenas em relação ao sofrimento actual, mas também em relação aos sofrimentos no passado, especialmente daqueles que foram vítimas das várias formas de dominação. Perante o seu destino, a questão mais urgente é saber se o ‘curso das coisas’ é que a opressão e a violência triunfam sobre a vida. E se mesmo uma sociedade melhor teria que viver com o conhecimento cruel de que a felicidade é inseparável do sofrimento de todos os infelizes.

A questão metafísica coloca-se também em face de nosso próprio sofrimento perante a finitude e a morte, e hoje especialmente perante a morte de Robert. Desistir simplesmente desta questão seria correr o risco de, perante o fáctico, passar rapidamente à ordem do dia e, apesar ou por causa de todas as invocações de memória, deixarmo-nos cair no esquecimento.

Uma resposta a essas perguntas está proibida até mesmo à teologia. Também ela não tem certezas para proclamar. Mas talvez ela possa, com toda a modéstia, falar da esperança de que ainda não tenha sido dita a última palavra sobre o sofrimento dos seres humanos. Essa esperança está consciente do risco de poder enganar-se e sofrer então uma desilusão. O seu suporte não é a segurança de verdades racionais necessárias, mas uma narrativa que reflecte experiências históricas. Dela está infelizmente desaparecido Deus e o que o seu nome misterioso inclui – Eu estarei lá como salvador da escravidão e da opressão, do sofrimento e da morte.

Em tal privação mantém-se viva a questão da transcendência, a questão da abolição das fronteiras históricas e naturais. Quem sente a falta de alguma coisa não se conforma com o que existe e mantém em aberto outras possibilidades. Neste sentido sentimos a falta da libertação da sujeição ao movimento de fim em si mesmo do capital. Sentimos a falta da salvação de todos aqueles que foram mortos na dominação associada à injustiça e à violência. Sentimos a falta dos nossos mortos. Sentimos a falta de Robert e podemos talvez descobrir que justamente na dor da ausência ele está próximo e presente.

Heribert Böttcher

(1) Theodor W. Adorno, Negative Dialektik [Dialética Negativa], in: Gesammelte Schriften, Vol. 6, Frankfurt am Main 2003, 191

(2) Ibid., 51

(3) Ibid.

(4) J.B. Metz, Memoria Passionis, Freiburg 2006, 79

(5) Ibid., 92

(6) Ibid ..

(7) Jörg Ulrich, Gott in Gesellschaft der Gesellschaft. Über die negative Selbstbehauptung des Absoluten [Deus em sociedade com a sociedade. Sobre a auto-afirmação negativa do absoluto], em: Exit! Krise und Kritik der Warengesellschaft [Exit! Crise e crítica da sociedade mercadoria] 2/2005, 23-52, 32

Guilherme de Almeida

O Príncipe dos Poetas Brasileiros

Nasceu a 24 Julho 1890
(Campinas, São Paulo, Brasil) Morreu em 11 Julho 1969
(São Paulo, São Paulo, Brasil)

Infância
Um gosto de amora
comida com sol. A vida
chamava-se “Agora”.
Publicado no livro Poesia Vária (1947). Poema integrante da série II. Parte: Os Meus Haikais. In: ALMEIDA, Guilherme de. Toda a poesia. 2.ed. São Paulo: Livr. Martins, 1955. v.

Guilherme de Andrade e Almeida nasceu em Campinas, SP, a 24 de julho de 1890. Filho do jurista e professor de direito Estevão de Araújo Almeida e de Angelina de Andrade Almeida, passou os primeiros anos da infância nas cidades de Limeira, Araras e depois Rio Claro, onde realizou os estudos primários. Em 1902 tornou-se aluno do Ginásio de Campinas e, em 1903, com a vinda da família à cidade de São Paulo, ingressou no Colégio de São Bento. Formou-se, em 1907, no Ginásio Nossa Senhora do Carmo, dos Irmãos Maristas. Em 1912, concluiu o curso da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, tendo, após a formatura, atuado como promotor público em Apiaí e em Mogi-Mirim. De volta à Capital em 1914, trabalhou com o pai até 1923, quando passou a se dedicar prioritariamente à atividade de escritor, iniciada alguns anos antes.

A estreia literária de Guilherme de Almeida se deu em 1916, com Mon Coeur Balance e Leur Âme (teatro), peças escritas em colaboração com Oswald de Andrade e editadas sob o título de Théatre Brésilien. Seu primeiro livro de poemas, Nós, veio a lume em 1917, seguindo-se A dança das horas e Messidor, ambos de 1919, e o Livro de Horas de Sóror Dolorosa, publicado em 1920. Escreveu, em 1921, o ensaio Natalika e os atos em verso Scheherazada e Narciso – A flor que foi um homem. Publicou Era uma Vez… em 1922. Nesse mesmo ano, atuou decisivamente na realização da Semana de Arte Moderna, ao lado de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Di Cavalcanti e Menotti del Picchia, entre outros. Ajudou a fundar a revista Klaxon (porta-voz do movimento), integrando a equipe de editores; criou a capa do periódico, além de anúncios publicitários dos patrocinadores, de concepção precursora da visualidade da arte de vanguarda e da própria propaganda moderna.

O poeta casou-se em 1923 com Belkiss Barroso do Amaral (Baby), e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde permaneceu até 1925. Nesse ano publicou quatro livros de poemas: Narciso, Encantamento, Raça e Meu, consistindo, estes dois últimos (principalmente Meu), no ápice de sua poesia modernista. Escreveu, também nesse ano, a conferência “Revelação do Brasil pela poesia moderna” e a apresentou no Rio Grande do Sul, em Pernambuco e no Ceará, a fim de difundir os ideais estéticos do Modernismo, regressando, em seguida, a São Paulo.

Em 1932, Guilherme participou ativamente da Revolução Constitucionalista, chegando a se alistar voluntariamente, como soldado raso, e a lutar na cidade de Cunha. Ao final desse Movimento, foi preso e exilado em Portugal, onde permaneceu até o ano seguinte. A estada naquele país forneceu elementos para a elaboração de crônicas reunidas no livro O meu Portugal, publicado em 1933.

Eleito em 1928 para a Academia Paulista de Letras e, em 1930, para a Academia Brasileira de Letras, Guilherme de Almeida foi, durante décadas, o mais popular poeta paulista. Sua obra compreende mais de 70 publicações, entre poesia, prosa, ensaio, tradução, além do extenso trabalho jornalístico, ainda esparso; deste, destaque-se sua coluna “Cinematographos”, pioneira da crítica cinematográfica em nosso país, mantida no jornal O Estado de S. Paulo entre as décadas de 1920 e 1940. Em 1959 foi eleito “Príncipe dos Poetas Brasileiros” em concurso patrocinado pelo jornal Correio da Manhã, por meio da seção “Escritores e livros” – escolhido por um “colégio eleitoral” de cerca de mil componentes, concorreu com os poetas Manuel Bandeira, Carlos Drummond da Andrade, Vinicius de Moraes e Mauro Mota.

Guilherme faleceu em 11 de julho de 1969, em sua casa da Rua Macapá, no Pacaembu, em São Paulo – a “Casa da Colina” –, onde residia desde 1946. Adquirida pelo Governo do Estado na década de 1970, a residência do poeta tornou-se o museu biográfico e literário Casa Guilherme de Almeida, inaugurado em 1979, que abriga também, hoje, um Centro de Estudos de Tradução Literária.

Dotado de reconhecido domínio técnico, Guilherme transitou com igual competência por modelos composicionais diversos. Segundo o escritor Lêdo Ivo, em sua introdução à segunda edição de Raça, “talvez mais do que nenhum outro dos participantes da Semana de Arte Moderna, Guilherme de Almeida viveu o drama da conciliação estética do novo com o velho, da fôrma com a forma, da tradição com a invenção, da rotina e do automatismo das receitas com o clamor de criatividade”.

FONTE: http://www.casaguilhermedealmeida.org.br

Um viva ao Lattes!

Em 11 de julho de 1924, nascia em Curitiba (PR), Cesare Mansueto Giulio Lattes, mais conhecido como César Lattes , falecido em Campinas, no dia 8 de março de 2005. Cesár Lattes foi um matemático e físico brasileiro dos mais ilustres e honrados e seu trabalho foi fundamental para o desenvolvimento da física atômica. Figura como um dos poucos brasileiros na Biographical Encyclopedia of Science and Technology de Isaac Asimov, como também na Encyclopædia Britannica e no Oxford Companion to the History of Modern Science. Embora Ele também foi um grande líder científico de física brasileira e foi uma das principais personalidades por trás da criação do importante Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
RTormento hoje para muitos a Plataforma Lattes (curriculos de pesquisadores) leva este nome em sua homenagem!
#cesarlattes #plataformalattes #lattes
Em 11 de julho de 1924, nascia em Curitiba (PR), Cesare Mansueto Giulio Lattes, mais conhecido como César Lattes , falecido em Campinas, no dia 8 de março de 2005. Cesar Lattes foi um matemático e físico brasileiro dos mais ilustres e honrados e seu trabalho foi fundamental para o desenvolvimento da física atômica. Figura como um dos poucos brasileiros na Biographical Encyclopedia of Science and Technology de Isaac Asimov, como também na Encyclopædia Britannica e no Oxford Companion to the History of Modern Science. Embora Ele também foi um grande líder científico de física brasileira e foi uma das principais personalidades por trás da criação do importante Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
RTormento hoje para muitos a Plataforma Lattes (currículos de pesquisadores) leva este nome em sua homenagem!
cesarlattes #plataformalattes #lattes

Dias Gomes, o pai do realismo fantástico na televisão

Dias Gomes foi o sexto ocupante da Cadeira 21, eleito em 11 de abril de 1991, na sucessão de Adonias Filho e recebido pelo Acadêmico Jorge Amado em 16 de julho de 1991

Em 18 de maio de 1999, morria Alfredo de Freitas Dias Gomes, mais conhecido pelo sobrenome Dias Gomes, foi um romancista, dramaturgo, autor de telenovelas e membro da Academia Brasileira de Letras. Também conhecido pelo seu casamento com a também escritora Jenete Stocco Emmer (Janete Clair).
“Aos quinze anos, escreve a primeira peça, A Comédia dos Moralistas (1937), premiada pelo Serviço Nacional do Teatro (SNT). Em 1943, ingressa na faculdade de direito, no Rio de Janeiro, mas não conclui a graduação. Entre o fim dos anos 1930 e o início da década de 1940, redige os textos reunidos no livro Peças da Juventude. Em 1942, estreia no teatro profissional com a peça Pé-de-Cabra, depois de cortes no texto feitos pela censura. A peça, encenada por Procópio Ferreira (1898-1979), rende-lhe contrato de exclusividade com o ator, para quem escreve mais cinco textos. Divergências ideológicas encerram a parceria.” Do site Enciclopédia Itaú Cultural.
Dias Gomes começou sua carreira no rádio. Na Jovem Pan, durante um ano, trabalhou como autor de radionovelas. Depois, passou por outras emissoras até ser contratado pela Rede Globo. Sua primeira novela na TV não levou seu nome, mas um pseudônimo feminino.


“Em 1964, Dias Gomes foi demitido da Rádio Nacional, da qual era diretor-artístico, pelo Ato Institucional n. 1, enquanto O pagador de promessas estreava em Washington e A invasão era encenada em Montevidéu. A partir de então, participou de diversas manifestações contra a censura e em defesa da liberdade de expressão. Ele próprio teve várias peças censuradas durante a vigência do regime militar (O berço do herói, A revolução dos beatos, O pagador de promessas, A invasão, Roque Santeiro, Vamos soltar os demônios ou Amor em campo minado). Fez parte do Conselho de Redação da Revista Civilização Brasileira desde seu lançamento, em 1965. Contratado, desde 1969, pela TV Globo, produziu inúmeras telenovelas, além de minisséries, seriados e especiais (telepeças). Apesar da censura, não interrompeu a produção teatral, e várias peças suas foram encenadas entre 1968 e 1980, destacando-se Dr. Getúlio, sua vida e sua glória (Vargas), em parceria com Ferreira Gullar, encenada no Teatro Leopoldina, de Porto Alegre, em 1969; O bem-amado, encenada no Teatro Gláucio Gil, do Rio de Janeiro, em 1970; O santo inquérito, no Teatro Teresa Rachel, do Rio, em 1976; e O rei de Ramos, no Teatro João Caetano, em 1979. Em 1980, em decorrência da decretação da Anistia, foi reintegrado aos quadros da Rádio Nacional, e trabalhos seus, como Roque Santeiro, foram liberados para apresentação. Do período pós-Anistia é a peça Campeões do mundo, encenada em novembro de 1980 no Teatro Vila-Lobos, do Rio. Em 1983, Vargas (nova versão de Dr. Getúlio) estreou no Teatro João Caetano, do Rio. No dia 16 de novembro, faleceu sua esposa, a novelista Janete Clair.” (trecho do site da Academia Brasileira de Lestras)
Dias Gomes faleceu em São Paulo, em um trágico acidente automobilístico, ao sair de um restaurante no centro, no dia 18 de maio de 1999.

Rádio Agencia Nacional
O bem amado revolucionou a televisão

Até quando as fogueiras reais ou simplesmente morais (estas não menos cruéis) serão usadas para eliminar aqueles que teimam em fazer uso da liberdade de pensamento? (O Santo Inquérito)


Obras TEATRO: A comédia dos moralistas (1939); Esperidião, inédita (1938); Ludovico, inédita (1940); Amanhã será outro dia (1941); Pé-de-cabra (1942); João Cambão (1942); O homem que não era seu (1942); Sinhazinha (1943); Zeca Diabo (1943); Eu acuso o céu (1943); Um pobre gênio (1943); Toque de recolher (revista), em parceria com José Wanderlei (1943); Doutor Ninguém (1943); Beco sem saída (1944); O existencialismo (1944); A dança das horas (inédita), adaptação do romance Quando é amanhã (1949); O bom ladrão, inédita (1951); Os cinco fugitivos do Juízo Final (1954); O pagador de promessas (1959); A invasão (1960); A revolução dos beatos (1961); O bem-amado (1962); O berço do herói (1963); O santo inquérito (1966); O túnel (1968); Vargas (Dr. Getúlio, sua vida e sua glória), em parceria com Ferreira Gullar (1968); Amor em campo minado (Vamos soltar os demônios) (1969); As primícias (1977); Phallus, inédita (1978); O rei de Ramos (1978); Campeões do mundo (1979); Olho no olho, inédita (1986); Meu reino por um cavalo (1988).

TELEVISÃO Telenovelas na TV Globo: A ponte dos suspiros, sob o pseudônimo de Stela Calderón (1969); Verão vermelho, (1969/1970); Assim na terra como no céu (1970/1971); Bandeira 2 (1971/1972); O bem-amado (1973); O espigão (1974); Saramandaia (1976); Sinal de alerta (1978/1979); Roque Santeiro (1985/1986); Mandala, sinopse e primeiros 20 capítulos (1987/1988); Araponga, com Ferreira Gullar e Lauro César Muniz (1990/1991).

Minisséries: Um tiro no coração, em co-autoria com Ferreira Gullar, inédita (1982); O pagador de promessas (1988); Noivas de Copacabana (1993); Decadência (1994); O fim do mundo (1996).

Seriados: O bem-amado (1979/1984); Expresso Brasil (1987).

Especiais (Telepeças): O bem-amado, em adaptação de Benjamin Cattan, TV Tupi, “TV de Vanguarda” (1964); Um grito no escuro (O crime do silêncio), TV Globo, “Caso Especial” (1971); O santo inquérito, em adaptação de Antonio Mercado, TV Globo, “Aplauso” (1979); O boi santo, TV Globo (1988); A longa noite de Emiliano, inédita, TV Globo.

ROMANCES: Duas sombras apenas (1945); Um amor e sete pecados (1946); A dama da noite (1947); Quando é amanhã (1948); Sucupira, ame-a ou deixe-a (1982); Odorico na cabeça (1983); Derrocada (1994); Decadência (1995).

CONTOS A tarefa ou Onde estás, Castro Alves? in Livro de cabeceira do homem, ano I, v. III (Civilização Brasileira, 1967); A tortuosa e longa noite de Emiliano Posada, inédito.

CINEMA O pagador de promessas, direção de Anselmo Duarte, Leonardo Vilar, Glória Menezes, Dionísio Azevedo, Geraldo Del Rey, Norma Benguell, Othon Bastos e Antonio Pitanga (1962); O marginal (roteiro), direção de Carlos Manga, com Tarcísio Meira e Darlene Glória (1974); O rei do Rio (adaptação de O rei de Ramos), direção de Bruno Barreto, com Nuno Leal Maia, Milton Gonçalves e Nelson Xavier (1985); Amor em campo minado, direção de Pastor Vera, Cuba (1988).

A obra escrita de Dias Gomes foi reunida na COLEÇÃO DIAS GOMES, coordenação de Antonio Mercado, composta dos seguintes volumes: 1 Os heróis vencidos (1989); 2 Os falsos mitos (1990); 3 Os caminhos da revolução (1991); 4 Espetáculos musicais (1992); 5 Peças da juventude (1994); 6 Rádio e TV (a sair) 7 Contos (a sair).

Carlos Lyra

BNDES 5° NO BNDES – “Carlos Lyra – 60 Anos de Bossa” – Ficha TécnicaCarlos Lyra – vozClaudio Lyra – voz e violãoFernando Merlino – tecladoRicardo Costa – bateriaAdriano Giffoni – baixo acústicoDirceu Leite – sax, flauta e clarineteDiogo Gomes – trompete e flugel 30 AGO 2018 FOTO ANDRE TELLES

Hoje, 11 de maio é aniversário do compositor carioca, Carlos Lyra, uma das maiores figuras da bossa nova, não por menos considerado por Tom Jobim como o “maior melodista da bossa nova”.

Você e Eu
Carlos Lyra
Podem me chamar e me pedir e me rogar
E podem mesmo falar mal
Ficar de mal que não faz mal
Podem preparar milhões de festas ao luar
Que eu não vou ir, melhor nem pedir
Eu não vou ir, não quero ir
E também podem me intrigar
Até sorrir, até chorar
E podem mesmo imaginar o que melhor lhes parecer
Podem espalhar que eu estou cansado de viver
E que é uma pena para quem me conheceu.

1954
– Compõe “Quando Chegares”, sua primeira música (e letra). Reuniões com Sylvia Telles, João Gilberto, Lúcio Alves, Luiz Eça, João Donato e outros à volta do piano de Johnny Alf, no bar do Hotel Plaza.

1955
– Silvinha Telles grava as músicas “Menina” de Carlos Lyra e “Foi a Noite”, de Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça em um compacto.

1956
– Compõe “Maria Ninguém” entre outras músicas também com letras suas.
– Gravação da música “Criticando” pelos “Os Cariocas”.

1957
– Primeiras parcerias com Ronaldo Bôscoli: “Lobo bobo”, “Se é tarde me perdoa”, etc.

1958
– Primeiras parcerias com Geraldo Vandré: “Quem Quiser Encontrar o Amor” e “Aruanda”.

1959
– Gravação do primeiro disco LP: “Carlos Lyra Bossa Nova” com contra-capa escrita por Ary Barroso.

1960
– Inicia parceria com Vinícius de Moraes: “Você e eu”, “Coisa Mais Linda”, “Minha Namorada”, etc.
– Compõe música para a peça “A Mais Valia vai Acabar, seu Edgar”, de Oduvaldo Vianna Filho, com direção de Chico de Assis.
– Compõe com Maria Clara Machado o musical infantil, “Maroquinhas Fru-Fru”.
– Grava seu segundo LP “Carlos Lyra”, com contra-capa de Vinicius de Moraes.
– Lança compacto duplo, 45 rpm, “No Balanço do Samba”, pela Philips, com as faixas: “Canção do olhar amado”, “Chora tua tristeza”, “Quando chegares” e “Só mesmo por amor”.

1961
– Funda, com Oduvaldo Vianna Filho, Ferreira Gullar e outros, o Centro Popular de Cultura da União dos Estudantes.
– Faz a música para a peça “Cinderela” de Maria Clara Machado.
– É escrito o musical “Um americano em Brasília”. Criação conjunta de Carlos Lyra, Chico de Assis e Nélson Lins e Barros.
– Faz a música para a peça “O testamento do cangaceiro”de Chico de Assis.
– Faz a música para a peça “Almas mortas” de Nikolai Gogol em montagem no TBC, com direção de Flávio Rangel.
– Gravação do terceiro LP “Depois do Carnaval”.
– Sai o disco “Bossa Nova Mesmo” com participações de Carlos Lyra, Vinicius de Moraes, Sylvia Teles, Lucio Alves e outros.

1962
– Apresentação de Concerto de Bossa Nova no Carnegie Hall de New York.
– Compõe com Vinícius de Moraes o musical “Pobre Menina Rica”.
– Lança compacto duplo – “Carlos Lyra”, pela Philips, com as faixas: “Você e eu”, “Chora tua tristeza”, Ïnfluência do jazz” e “Depois do carnaval”.

1963
– Compõe música para o filme “Gimba” de Flávio Rangel.
– O filme “Couro de Gato” recebe prêmios em Sestri Levanti (Itália) e Oberhausen (Alemanha).
– Compõe com Vinícius de Moraes o “Hino da UNE” e a “Marcha da Quarta-feira de Cinzas”. Compõe a “Canção do Subdesenvolvido” em parceria co Chico de Assis.
– Compõe música para o filme “Bonitinha mas ordinária” de Nelson Rodrigues”

Billy Blanco: “Todo mundo é igual quando a vida termina Com terra em cima e na horizontal”

Em 8 de maio de 1924 nascia em Belém do Pará, William Blanco Abrunhosa Trindade, mais conhecido como Billy Blanco, arquiteto (Em 1946 estudou na Universidade Presbiteriana Mackenzie (FAU/Mackenzie e em 1948 muda-se para o Rio de Janeiro e continua os estudos na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Brasil, diplomando-se em 1950), músico, compositor e escritor.

A carreira artística inicia nos anos 1950 com o Sexteto Billy Blanco. As primeiras músicas são gravadas pela então namorada Dolores Duran (1930-1959), “Outono”, e por Linda Batista (1919-1988), “Prece de um Sambista”:
Quando morre um sambista,
No céu é motivo de festa,
Pois os anjos, que são da seresta,
Se alegram também,
E no meio de tanta alegria,
Todo o céu, se transforma em terreiro,
Os clarins, dão lugar ao pandeiro,
Que marca a chegada de alguém,
O Noel, que nosso santo do samba,
E chegou lá primeiro,
É o chefe do santo terreiro,
De Nosso Senhor,
Imploro a Deus,
Conservai-me um sambista decente,
Para merecer algum dia,
Sambar com esta gente,
De tanto valor !

A banca do distinto. Billy Blanco foi originalmente lançada em julho de 1959, no compacto duplo “Dolores Duran no Michel de São Paulo”:

A Banca do Distinto

Não fala com pobre, não dá mão a preto
Não carrega embrulho
Pra que tanta pose, doutor
Pra que esse orgulho
A bruxa que é cega esbarra na gente
E a vida estanca
O enfarte lhe pega, doutor
E acaba essa banca
A vaidade é assim, põe o bobo no alto
E retira a escada
Mas fica por perto esperando sentada
Mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão
Mais alto o coqueiro, maior é o tombo do coco afinal
Todo mundo é igual quando a vida termina
Com terra em cima e na horizontal


A grande e fenomenal Inezita Barroso (1925-2015) registra “Estatutos da Gafieira”, em 1954:
Moço
Olha o vexame
O ambiente exige respeito
Pelos estatutos
Da nossa gafieira
Dance a noite inteira
Mas dance direito
Aliás
Pelo artigo 120
O distinto que fizer o seguinte:
Subir na parede
Dançar de pé pro ar
Debruçar-se na bebida sem querer pagar
Abusar da umbigada
De maneira folgazã
Prejudicando hoje
O bom crioulo de amanhã
Será distintamente censurado
Se balançar o corpo
Vai pra mão do delegado
Ta bem, moço?
Olha o vexame, moço!

Também em 1954, compõe com Tom Jobim (1927-1994) a música “Tereza da Praia”, sucesso na voz dos cantores Dick Farney (1921-1987) e Lúcio Alves (1927-1993).

Tereza da Praia

Oh, Dick?
– Fala, Lúcio
Arranjei novo amor no Leblon
– Não diga!
Que corpo bonito, que pele morena
-Eu conheço
Que amor de pequena, amar é tão bom

Oh, Lúcio?
– Fala meu irmão
Ela tem um nariz levantado?
– Tem
Os olhos verdinhos
– É mesmo
Bastante puxados
– Uhum
Cabelo castanho, né?
E uma pinta do lado

É a minha Tereza da praia
Se ela é tua é minha também
O verão passou todo comigo
O inverno pergunta com quem

Então vamos
A Tereza na praia deixar
Aos beijos do sol
E abraços do mar

Tereza é da praia
Não é de ninguém
Não pode ser tua
Nem minha também
Tereza é da praia

Billy Blanco e Tom Jobim lançam o disco Sinfonia do Rio de Janeiro (1954), com arranjos de Radamés Gnatalli (1906-1988).  Algumas canções desse disco fazem parte da trilha sonora do filme Esse Rio que Eu Amo (1961), do diretor Carlos Hugo Christensen (1914-1999).

Em 1956 compõe “Samba Triste”, em parceria com o violonista Baden Powell (1937-2000):
Samba triste
A gente faz assim:
Eu aqui
Você longe de mim, de mim
Alguém se vai
Saudade vem
E fica perto
Saudade, resto de amor
De amor que não deu certo
Samba triste
Que antes eu não fiz
Só porque
Eu sempre fui feliz, feliz, feliz, feliz
Agora eu sei
Que toda vez que o amor existe
Há sempre um samba triste, meu bem
Samba que vem
De você, amor

Em 1965, participa do 1o Festival de Música Popular Brasileira da TV Excelsior, São Paulo, com a canção “Rio do Meu Amor”, interpretada por Wilson Simonal (1939-2000), que se classifica em 5º lugar. Em 1966, no 1o Festival Internacional da Canção da TV Globo, Rio de Janeiro, obtém  4º lugar na classificação geral com o samba “Se a Gente Grande Soubesse”, interpretado pelo filho Billy Blanco Jr., e Quarteto em Cy. Em 1968, na Bienal do Samba da TV Record, São Paulo, classifica em 4o lugar o samba “Canto Chorado” na voz de Jair Rodrigues (1939-2014):

No jogo se perde ou se ganha
Caminho que leva
Que traz
Trazendo alegria tamanha
Levando, levou minha paz
Tem gente que ri da desgraça
Duvido que ria da sua
Se alguém escorrega aonde passa
Tem riso do povo
Na rua
O que dá pra rir, dá pra chorar
Questão só de peso e medida
Problema de hora
E lugar
Mas tudo são coisas da vida
O que dá pra rir, dá pra chorar
O que dá pra rir, dá pra chorar.

Participa das trilhas sonoras para os filmes Carnaval Atlântida (1952), de José Carlos Burle (1910-1983), e Crônica da Cidade Amada (1965), de Carlos Hugo Christensen.

Compõe a trilha sonora para a peça Chico do Pasmado, do autor Aurimar Rocha (1934-1979), em 1965. Nesse ano, escreve letras em português para canções do musical Noviça Rebelde (The Sound of Music), e para a comédia musical norte-americana do escritor Shepherd Mead (1914-1994), Como Vencer na Vida sem Fazer Força (How to Succeed in Business Without Really Trying). Em 1996, publica pela Editora Record o livro Tirando de Letra e Música.

Em 2002, a gravadora Biscoito Fino lança o CD A Bossa de Billy Blanco, com sucessos como os sambas “Estatutos da Gafieira”, “Pistom de Gafieira”, “Rio do Meu Amor” e “Samba Triste”.

Em 1974, o compositor Billy Blanco lançou “Sinfonia Paulistana”, um disco dedicado a celebrar o povo e a história de São Paulo:

Amanhecendo

Começou um novo dia
Já volta quem ia
O tempo é de chegar
De metrô chego primeiro
Se tempo é dinheiro
Melhor vou faturar
Sempre ligeiro na rua
Como quem sabe o que quer
Vai o paulista na sua
Para o que der e vier

A cidade não desperta
Apenas acerta
A sua posição
Porque tudo se repete
São sete, e às sete
Explode em multidão
Portas de aço levantam!
Todos parecem correr!
Não correm de, correm para
Para São Paulo crescer!

Vam bora, vam bora
Olha a hora
Vam bora, vam bora
Vam bora, vam bora
Olha a hora
Vam bora, vam bora
Vam bora!

Vam bora, vam bora
Olha a hora
Vam bora, vam bora
Vam bora, vam bora
Olha a hora
Vam bora, vam bora
Vam bora!

Sinfonia Paulistana

Fazendo som com as estrelas, ligado no sideral
Por Maria, fez poemas, nas praias do litoral
As ondas contaram ao mar, por isso é que os oceanos
No mundo inteiro cantados, cantarão mais cem mil anos
E o homem entre mar e céu, tem canções por todo lado
Louvado seja Anchieta, pra sempre seja louvado
Navegante tem cantiga, que aprendeu no mar um dia
Qualquer rota que ele siga, se não canta, ele assobia
Cabelos cor da noite, pele de alvorada
Cacique entregou ao branco, a filha amada
Raízes de Brasil, chegaram até aqui
Abençoado o colo dessa mãe antiga
Por 400 anos feitos de cantiga, naquele doce embalo
Da canção Tupi
Na tez de uma paulista em cheiro de floresta
A cor de jambo é a índia, que ninguém contesta
De uma altivez que o Império nunca vira
É a tradição, é a raça, é a nossa origem
As coisas da história de São Paulo exigem
A honra que se faça ao nome de Bartira, Bartira
Era tudo, era o nada rio acima
Que o paulista no peito ia vencer
Pra fazer mais Brasil do que existia
Já um tempo era pouco pra perder
Reunindo oração e despedida na partida da horda triunfal
Caçador da esmeralda perseguida
Foi fazendo a unidade nacional
Bandeiras, monções
Já se dava por glória ao que se ia
Porque mal se sabia se voltava
E a benção levada já servia
De unção para quem por lá ficava
Nas monções quem seguia, na verdade
Já partia cheirando à santidade
Quem não via esmeralda ou não morria
Povoava cidade mais cidade
Bandeiras, monções, São Paulo
Que amanheceu trabalhando
São Paulo, que não sabe adormecer
Porque durante a noite, paulista vai pensando
Nas coisas que de dia vai fazer
São Paulo, todo frio quando amanhece
Correndo no seu tanto o que fazer
Na reza do paulista, trabalho é Padre-Nosso
É a prece de quem luta e quer vencer
Bastante italiano, sírio e japonês
Além do africano, índio e português
Tudo isso ao alho e óleo, temperando a raça
Na capital do tempo, tempo é ouro e hora
Quem vive de espera, é juros de mora
Não tem mais-mais nem menos, ou é sim ou não
No máximo se espera pela condução
Nas retas da Rio-São Paulo, chegando, chegando eu vim
Paulista é quem vem e fica plantando, família e chão
Fazendo a terra mais rica, dinheiro e calo na mão
Dinheiro, mola do mundo, que põe a gente na tona
Leva a gente ao fundo
Sim, senhor, sim, senhor, sim, senhor
Faz a paz e a guerra, traz a Lua pra Terra
No mais aumenta a barriga do comendador
Dinheiro, juras e juros, erguendo todos os muros
Pra ele próprio depois, derrubar, derrubar
É a voz que fala mais forte, razão de vida e de morte
Também só compra o que pode comprar
São Paulo, que amanhece trabalhando
Casais entram no elevador
O fino pra curtir um som: ran ran, ren ren, ron ron
A noite é sempre uma criança, é só não deixar crescer
Assim existe esperança, no amanhecer
São coisas da noite, anúncios conhecidos
Que enfeitam a cidade, em movimentos coloridos
Alguém vem do trabalho, do baralho ou do que for
Do La Licorne ao Ceasa, de alguma coisa do amor
Tem sempre mais um, que vem pela calçada
Na bruma que esconde quem sobrou na madrugada
Dei tempo ao tempo, o tempo é que não dá
Tenho que estar pelas sete, no Viaduto do Chá
Olha o Sol, olha o Sol, cadê o Sol? Onde o Sol?
Sumiu, sumiu, sumiu
Quando amanhece, o Sol comparece por obrigação
Nublado, cansado, um Sol de rotina
Se bem ilumina, nem dão atenção
É que o bandeirante não perde o seu tempo
Olhando pro alto, o Sol verdadeiro está no asfalto
Na terra, no homem e na produção
A cor diferente do céu de São Paulo não é da garoa
É véu de fumaça, que passa, que voa
Na guerra paulista das mil chaminés
São Paulo, que amanhece trabalhando
Começou um novo dia, já volta
Quem ia, o tempo é de chegar
Do metrô chego primeiro, se tempo é dinheiro
Melhor, vou faturar
Sempre ligeiro na rua, como quem sabe o que quer
Vai o paulista na sua, para o que der e vier
A cidade não desperta, apenas acerta a sua posição
Porque tudo se repete, são sete
E às sete explode em multidão:
Portas de aço levantam, todos parecem correr
Não correm de, correm para
Para São Paulo crescer
Vão bora, vão bora, olha a hora
Vão bora, vão bora, vão bora, vão bora
Olha a hora, vão bora, vão bora, vão bora
Que o tempo não espera, a vida é derradeira
Quem é vai ser, já era de qualquer maneira
O mundo é do “eu quero”
Quem me der é triste, tristeza basta a guerra
E o adeus no amor
Você onde é que estava quando o tempo andou?
Na terra que não pára, só você parou
Vão bora, vão bora, olha a hora
Vão bora, vão bora, vão bora, vão bora
Olha a hora, vão bora, vão bora, vão bora
O que vale é a versão, pouco interessa o fato
Porque a sensação maior é a do boato
Em coisa de um segundo, noite é madrugada
Notícia ganha o mundo, e a gente não é nada
Você onde é que estava quando o tempo andou?
São Paulo nunca pára, mas você, parou
Vão bora, vão bora, olha a hora
Vão bora, vão bora, vão bora, vão bora
Olha a hora, vão bora, vão bora, vão bora
São Paulo que amanhece trabalhando
Na Praça do Patriarca, rua Direita, São Bento
Na Líbero Badaró, no Viaduto do Chá
Lá está aquele moço, que não dá ponto sem nó
Na conversa bem jogada, vai vendendo geladeira
Pra esquimó curtir verão
Papo firme é isso aí, desse dono da calçada
Rei da comunicação
Olhe aqui, dona Teresa, o produto de beleza
Que chegou da Argentina, examina, examina
De brinde pra seu marido
Nova pomada pra calo que resolve a dor de ouvido
Tem Parker 73, compre uma e ganhe três
Nem paga o justo valor, mais outra ali pro doutor
Leve a lei do inquilinato, mesmo não sendo inquilino
Morar na lei é um barato, e ele prova à sua maneira
Que um ataque de besteira, faz de um doutor um otário
Cursando numa avenida o vestibular da vida
Para ser bom empresário
Ser do São Paulo, do Corinthians e Palmeiras
É ter o fino em futebol durante o ano
Em tênis, remo, natação, nas domingueiras
Bom é Pinheiros, Tietê ou Paulistano
Com Ademir, com Rivelino no gramado
Com rei Pelé e suas jogadas de veludo
Não pe de graça que São Paulo é chamado
Melhor da América Latina em quase tudo
Pró-esporte, pró-esporte é a solução
Pró-esporte, pró-esporte contra a poluição
Lá por setembro o estudante nos ensina
Aquele esporte pelo esporte que não cede
E o meu Mackenzie, dá um show com a medicina
Na grande guerra que se chama MacMed
No corre-corre mundial estamos nessa
Os Fittipaldi estão aí para dizer
Só em São Paulo que é a terra do depressa
A São Silvestre poderia acontecer
Pró-esporte, pró-esporte é a solução
Pró-esporte, pró-esporte contra a poluição
São Paulo jovem, dos que promovem velocidade
Nos seus cavalos, de roda e ferro, na sua forma de liberdade
O peito agarra, a costa de aço
Que deu garupa na Yamaha, no upa-upa
Feito de abraço e muito amor
São Paulo jovem, na mesma cela
Vão ele e ela, por onde seja
Deus os proteja, pelos caminhos da vida em flor
Tem coisas da Ipiranga, da Itapetininga, até da São João
Às vezes também dá
Puxar o show, o chope, o uísque, boa pinga
E o molho das mulheres que transam por lá
Tem loja, tem butique, tem pizzaria
Boate, restaurante, até casa lotérica
É rua que de nada mais precisaria
Com todo aquele charme do Jardim América
América, rua augusta
E agora, já é hora
E ninguém vai embora, embora de lá
Rua augusta, e agora, já é hora
E ninguém vai embora, embora de lá
Bartira e João Ramalho nunca imaginaram
Que a tanga e a miçanga vinham outra vez
Agora nos diriam vendo que acertaram:
Valeu o nosso amor, pelo amor de vocês
E a moça vai passando, e ninguém vê mais nada
Quando ela vai na dela, é pra machucar
É a paulistana boa, despreocupada
De short ou minissaia, pondo pra quebrar, pra quebrar
Rua augusta, e agora, já é hora
E ninguém vai embora, embora de lá
Na sinfonia, que é de todos os barulhos
De Santo Amaro, ao Brás, ao Centro, ao ABC
Por Santo André, Vila Maria até Guarulhos
Grande São Paulo, como eu gosto de você
São Paulo, que amanhece trabalhando
São Paulo que não pode amanhecer
Porque durante a noite, paulista vai pensando
Nas coisas que de dia vai fazer.

FONTE DE PESQUISA:
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa530871/billy-blanco

Leny Eversong

Dia 29/04/1984 é o dia da morte da cantora paulista Hilda Campos Soares da Silva, a Leny Eversong – conhecida pela sua voz poderosa, que lhe deu fama internacional nos anos de 1950, fez várias temporadas anuais nos cassinos de Las Vegas. Em 1945, transferindo-se da Rádio Tupi, passou por duas rádios paulistas: a Excelsior e depois a Nacional. O repertório de Leny Eversong era em sua maioria musica internacional e jazzista.

Nascida em Santos, em 01 de setembro de 1920, desde pequena participava de concursos e apresentações. Em 1936 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou a cantar na Rádio Tupi e fazer shows no Cassino da Urca e no Copacabana Palace.

Em 1940 lançou seu primeiro LP pela Copacabana Discos. Sua carreira foi marcada pela critica por não cantar musica brasileira, o que a obrigou a gravar algumas musicas de autores nacionais como Adoniran Barbosa, Tom Jobim e Lupicínio Rodrigues.

Leny na Revista do Rádio – 656

De volta pra São Paulo, mostrou sua potente voz em várias emissoras e casas noturnas.

Leny morreu – com apenas 64 anos -na penúria depois de uma década de ostracismo em 1984. Cansada, com diabetes e sobrepeso vivia desde 1973 afastada da vida artística. Seu marido, Francisco Luís Campos Soares da Silva (conhecido como Nei) havia desaparecido misteriosamente, só após a sua morte é que ficou revelado que seu marido tinha sido executado junto com sindicalistas santistas pelos órgãos repressivos da ditadura militar.

Leny Eversong – OTINDERÊ – Leyde Olivé – orquestração de Guerra-Peixe – Ano de 1956


NUNCA
Nunca
Nem que o mundo caia sobre mim
Nem se Deus mandar, nem mesmo assim
As pazes contigo eu farei

Nunca
Quando a gente perde a ilusão
Deve sepultar o coração
Como eu sepultei

Saudade
Diga a esse moço, por favor
Como foi sincero o meu amor
Quanto eu o adorei, tempos atrás

Saudade
Não esqueça também de dizer
Que é você que me faz adormecer
Pra que eu viva em paz

Na voz de Leny Eversong