Day: 7 de junho de 2016

O povo não cabe no orçamento do governo provisório

40 anos CPT - logo

NOTA PÚBLICA

O povo não cabe no orçamento do governo provisório

A Articulação das Pastorais do Campo, composta pelo Conselho Indigenista Missionário – CIMI, Comissão Pastoral da Terra – CPT, Conselho Pastoral dos Pescadores – CPP, Cáritas Brasileira, Serviço Pastoral dos Migrantes – SPM, divide com os grupos e comunidades com as quais convivem suas angústias e apreensões, diante da violência institucional e do desmonte dos direitos conquistados em longo processo de lutas.

Após o Senado Federal ter afastado temporariamente, numa manobra claramente golpista, a presidenta Dilma Rousseff e empossado provisoriamente Michel Temer, estão sendo impostas, irresponsavelmente, medidas com caráter de mandato definitivo.  Medidas que afetam diretamente os mais fracos e vulneráveis de nosso país, sobretudo os povos e comunidades do campo, das florestas e das águas.

Formou um novo ministério só de homens, e todos brancos.  Nenhuma mulher, nenhum negro, ninguém alinhado às classes sociais desprotegidas. Nada menos que sete deles citados e denunciados na Operação Lava-Jato e em outros processos de corrupção. Dois, por conta de gravações divulgadas e que os incriminam, já tiveram que ser  afastados.

Promoveu a extinção de ministérios, a fusão de outros, sobretudo os voltados para o campo social, como o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e a Secretaria dos Direitos Humanos, da Igualdade Racial e da Mulher, num processo em que está implícito o desmanche de direitos. Sucedem-se medidas anunciadas e revogadas num curto espaço de tempo. Caso exemplar é o da competência pela delimitação das terras quilombolas, que foi transferida do Incra para o Ministério da Educação, deste para o Ministério da Cultura e por fim acabou ficando, junto com o próprio Incra e outros órgãos voltados para o povo do campo, para a Casa Civil.

Seus ministros acenam que as medidas de reconhecimento de terras indígenas e territórios quilombolas tomadas pelo governo Dilma, nos meses anteriores a seu afastamento, poderão ser revogadas.

Há articulações para revogação do Decreto nº 8.750/2016, que instituiu o Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais, num claro desrespeito à identidade e direitos desses povos.

Na verdade, as questões que envolvem indígenas, camponeses, sem terra e comunidades tradicionais são uma batata quente nas mãos do governo interino com as quais não sabe tratar. A sensação que transparece é que procura um jeito de se ver livre delas.

O golpe contra o direito dos mais vulneráveis atinge em cheio também as comunidades urbanas. A primeira grande vítima do governo provisório foi o Direito à Moradia. O cancelamento dos contratos se voltou principalmente contra a modalidade ‘Entidades do Programa’, na qual os futuros moradores gerenciam o projeto e a obra, construindo casas maiores e melhores, com os mesmos custos das construções feitas por empreiteiras. Medida revogada nos últimos dias.

E se anunciam reformas na previdência, com aumento da idade mínima para aposentadoria, desvinculação do salário mínimo, atingindo mais de 30 milhões de pessoas. Também já está clara a revisão do programa Bolsa Família. O ministro da Saúde acenou para o fim da universalidade do SUS.

Quem está atrapalhando o novo governo é o povo. Este não cabe no orçamento, como se pode ver pelo plano econômico anunciado que propõe colocar um limite para despesas em saúde, educação e outras em setores essenciais à vida do povo.

Tudo isso deixa claro o que esteve por trás de todo o processo que levou ao afastamento provisório da presidenta Dilma Rousseff.  Foi um escárnio à história e à inteligência do povo brasileiro. E um claro e transparente atentado contra a democracia. Na realidade o processo de Impedimento de Dilma não visava acabar com a corrupção ou punir os corruptos, mas justamente o oposto: proteger corruptos dando-lhes poder para garantirem seus privilégios e para bloquear investigações em curso. E limitar os ganhos sociais dos mais pobres.

De nada valeram, até agora, as mais variadas manifestações das igrejas, de pastorais sociais, de movimentos populares, de juristas, artistas e intelectuais que alertavam sobre a iminência da quebra da ordem democrática. De nada valeram também os argumentos de defesa da presidenta. O que se inferia de todo o procedimento adotado ficou claramente explícito na gravação, tornada pública no dia 23 de maio, do diálogo do senador Romero Jucá com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Dilma tinha que ser afastada para se colocar um limite às investigações da Lava-Jato.

A cada dia de atuação desse novo governo interino se confirma a subserviência do presidente Temer aos interesses financeiros dos conglomerados empresariais, de capital nacional e internacional, representados, sobretudo, pela bancada ruralista e por setores ligados a interesses minerários.

As Pastorais do Campo denunciam a violência em curso e somam suas vozes à de muitas igrejas cristãs e não cristãs, à dos movimentos sociais, à dos jovens que ocupam escolas na defesa dos direitos a condições melhores de educação, a milhares de famílias silenciosas que vêem suas parcas conquistas escorrerem de suas mãos, para que um estrondoso grito de justiça ecoe em todos os cantos deste imenso Brasil. É necessária e urgente uma profunda reforma política que garanta mecanismos de participação popular nos destinos da nação. É patente que o Executivo e o Legislativo não respondem à sociedade, não olham os interesses do povo. Obedecem unicamente aos ditames dos doadores de suas campanhas.

Brasília, 07 de junho de 2016.

Cáritas Brasileira

Comissão Pastoral da Terra – CPT

Conselho Indigenista Missionário – CIMI

Conselho Pastoral dos Pescadores – CPP

Serviço Pastoral dos Migrantes – SPM

Publicidade

Novos paradigmas: rumo ao bem viver

seminario_email_site_final_maior

O modelo de desenvolvimento dominante, baseado numa concepção produtivista-consumista, desconsidera os limites da natureza e é a principal causa da degradação ambiental. É mais que nunca o momento de buscar outras formas de organização socioeconômica que garanta a reprodução da natureza, evite o desperdício e não esgote os bens de que precisamos para viver. Que estejam voltadas para a vida e não para a maximização do consumo.

É nesta perspectiva que Abong – Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais e Iser Assessoria – Religião, Cidadania e Democracia convidam para o Seminário “Novos Paradigmas: Rumo ao Bem Viver”.

O evento acontecerá nos dias 13 e 14 de junho, na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).

Para se inscrever, clique aqui.

Acesse a programação completa do evento aqui.

O Seminário terá transmissão online. O link será disponibilizado posteriormente no site da Abong.

 

Muitas coisas já estão sendo feitas de forma diferente, provando que podemos viver de outra maneira – e melhor – do que estamos vivendo hoje. São “práticas alternativas” que se distinguem do paradigma dominante por levar em consideração as exigências e os limites da natureza, buscar uma relação harmoniosa com o meio ambiente e por valorizar condições que configuram mais justiça social.

Composto por mesas temáticas que tratarão de analisar a conjuntura à luz do tema, bem como de pensar a construção de práticas alternativas e sua difusão para fins de construir um novo futuro, o Seminário contará com a participação de intelectuais e especialistas no assunto tais como Leonardo Boff, Ricardo Abramovay, Ivo Poletto, Ivo Lesbaupin, entre outros/as.

SERVIÇO

Seminário “Novos Paradigmas: Rumo ao Bem Viver”
13 e 14 de junho | 9h às 17h
Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) | Rua General Jardim, 522 – São Paulo
Inscrições aqui
Programação completa aqui
Mais informações: 11 3237-2122