Joaquim Maria Machado de Assis (Rio de Janeiro, 21 de junho de 1839 – Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1908)

Machado de Assis: Um gênio que desafiou as injustiças com a pena.

Machado de Assis: Um gênio num país desleal

No país onde a esperteza é exaltada e o talento, muitas vezes, ignorado, nasceu Machado de Assis — e não poderia haver ironia mais machadiana do que essa. Imagine um garoto pobre, mulato, epiléptico, criado no Morro do Livramento, que aprendeu francês sozinho lendo anúncios de jornal e ouviu latim nas homilias de padre, decidindo transformar a língua portuguesa em arte. Seria um roteiro de superação, se não fosse, sobretudo, um ato de resistência.

Machado não precisou gritar. Suas palavras, afiadas como navalhas, cortavam fundo sem fazer alarde. Ele mostrou que o Brasil é pródigo em criar obstáculos para seus filhos mais brilhantes — e ainda assim alguns pulam as cercas com leveza e elegância. Os poderosos o toleravam porque ele nunca se colocou como ameaça explícita; preferia expor seus vícios com humor ácido, e isso os confundia.

Num país desleal, onde o mérito é frequentemente sufocado pela aparência, ele construiu personagens tão complexos quanto o próprio sistema que os cercava. Brás Cubas, Capitu, Quincas Borba: todos vivem num mundo onde as aparências enganam e a verdade é um jogo de espelhos — um Brasil que não parece tão distante do de hoje.

A genialidade filosófica de Machado não foi um raio em céu limpo. Foi um relâmpago persistente, que mesmo em meio à tempestade, continuava a iluminar.

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Gilberto da Silva

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