lulaegetulio

  1. Lula, pastiche de Getúlio

Lula ao sujar as mãos com petróleo repete o mesmo gesto de Getúlio quando do contexto da promoção de “o petróleo é nosso!”. Enquanto Getúlio dizia sair “da vida para entrar na história” Lula disse: “saio do governo para viver a vida das ruas”. Lula resgata um morto e representa – através da imagem – o tempo passado como um presente perpétuo.

Para Jameson, o pastiche é meramente uma reprodução desprovida de sentido que tem e é uma das principais características da produção cultural na era do pós-modernismo. O passado como simples imitação, sem o caráter transgressor da paródia. Mas quando o passado é representado pelo pastiche, temos como resultado a perda da historicidade, assim, fragmentados, perdemos nossa conexão com a história que se transforma em uma série de estilo e gênero superados ou em simulacros.

O pastiche é uma paródia que perde o sentido de humor, falsificado do original. Ao falar “através de máscaras” e imitar estilos mortos ou querer resgatar Getúlio, Lula transforma-se numa criatura incompleta: uma “estátua sem olhos”.

Todos os sinais, símbolos e mesmo agendas da chamada Era Vargas estão presente na atual conjuntura brasileira.  Os dados da eleição para governador e presidente em 2014 no estado de São Paulo realçam a tradição liberal antivarguista. A primeira impressão que fica é que ao rejeitar o petismo/lulismo, São Paulo encarna a sua tradição.

Os gestos e as palavras de Lula remetem a analogias com Getúlio Vargas: “Estou convencido de que as realizações sociais e econômicas e de projeto de país só terão comparação com o governo do presidente Getúlio Vargas”, afirmou Lula no dia 30 de agosto de 2007 durante uma reunião ministerial.

Assim como Getúlio Vargas, Lula autoproclama o “pai dos pobres” e ambos possuíam um projeto nacional-desenvolvimentista. Até nos tribunais os casos se assemelham,  -mas cabe aqui o pastiche-, no caso de Vargas, os Inquéritos Policiais Militares  conduzidos pela Aeronáutica e várias CPIs ( o mar de lama) ; no caso de Lula, os inquéritos do Ministério Público Federal e o mensalão. Mais que um simulacro, um pastiche.

Lula sempre que desenja atacar a chamadas “elites” usa o recurso de lembrar e compararar o seu governo com o governo de Vargas . Assim como Vargas, Lula sofre sucedidas estratégias de desconstruir sua imagem pública, atrelando a ela de forma sistemática (por meio do oligopólio dos meios de comunicação) a pecha de corrupto.

No dia 22 de janeiro de 2010, ao inaugurar a sede do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados, em São Paulo, falando em um auditório que ganhou o nome de Vargas, o presidente Lula afirmou: “Muitas das coisas boas que temos (devemos) à coragem de Getúlio Vargas, à visão de Estado que tinha Getúlio Vargas. Estamos convencidos de que Getúlio prestou esse serviço ao Brasil. Lamentavelmente, uma parte da elite brasileira, inclusive uma parte da elite intelectual, (vive) inconformada porque não conseguiu ganhar o golpe de 32 que chamam de revolução. Aquilo foi uma tentativa de golpe. Não se conformam. É muito triste aqui em São Paulo a gente não encontrar uma rua com o nome de Getúlio Vargas” (Carta Capital, 10 de fevereiro de 2010). E mais adiante completou: “Eu tenho divergências com Vargas na questão da estrutura sindical (…) mas eu sou capaz de ter divergências com um companheiro e não ver só defeito, ver as virtudes que a pessoa tem. Eu acho que Getúlio foi um excepcional presidente deste país” – (GUIMARAES, Juarez in: Lula e a Nova História do Brasil in: <http://www.teoriaedebate.org.br/materias/politica/lula-e-nova-historia-do-brasil>
Na Convocatória para o 5º Congresso Nacional do PT (14435720052013CONVOCATORIA_5_CONGRESSO_PT ) este paralelo com Vargas é explicitado. Na Convocatória, o PT se diz vítima de desmoralização e denuncia uma campanha para carimbar Lula como corrupto e diz que as mesmas forças que levaram Getúlio Vargas ao suicídio e derrubaram João Goulart, abrindo espaço para uma ditadura de 21 anos, hoje atacam Lula.
“A história do século XX e dos primeiros anos deste século mostra como as classes dominantes e seus aparelhos reagem contra governos que vão na contramão de seus interesses particulares. A partir de 2003, de forma intermitente, tratou-se de anular os notórios êxitos do Governo, com campanhas que procuravam ou desconstruir as realizações do Governo Lula ou tachá-lo de ‘incapaz’ e ‘corrupto’. Sabe-se que denúncias sobre corrupção sempre foram utilizadas pelos conservadores no Brasil para desestabilizar governos populares, como os casos de Vargas e Goulart”

Sintomático o recebimento, por parte de Lula, do escritor Lira Neto que almoçou no dia 29/07/2014 com o ex-presidente, que recebeu e afirmou estar lendo o terceiro e último volume sobre a vida de Getúlio Vargas, que  trata do período entre 1945, com o fim do Estado Novo, até o suicídio de Vargas em 1954.

lulae lira

Lula afirmou que leu os dois primeiros livros sobre a vida de Getúlio e deu um depoimento sobre a primeira parte da trilogia (que vai do nascimento de Vargas até 1930) que saiu na contracapa do segundo volume (sobre o período entre 1930-1945).
Na epopeia lulista não houve suicídio, como Vargas e muito menos  renúncia, mas o caminho da história ainda está aberto.

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.