Posse de Lula 

Algumas afirmações sobre o governo Lula levam a entender que o ex-operário optou pelo neoliberalismo em sua experiência governamental, que a política implementada no governo petista não tocou na herança neoliberal de FHC, tais como a abertura comercial, a desregulamentação financeira e do mercado do trabalho, a redução dos direitos sociais, o ajuste fiscal, a privatização e a desindexação dos salários.

Em 2001, o Instituto da Cidadania (atual Instituto Lula) publicou o documento “Um outro Brasil é possível” em que faz um mapeamento da conjuntura, do agravamento da dependência, da desnacionalização da economia no governo FHC, do controle progressivo dos EUA sobre a economia latino-americana (ALCA), do desmonte do Estado, do agravamento da crise social. Já deixava uma dubiedade sobre o processo de privatizações Lembremos que a Carta aos Brasileiros foi lida por Lula durante o encontro partidário em 2002.  Ao assumir o governo, Lula manteve o que preconizou na Carta.

Os membros da equipe governamental não tocaram na herança neoliberal de FHC: a abertura do comercio, a desregulação financeira, a privatização, o ajuste fiscal e o pagamento da dívida, a redução dos direitos sociais, a desregulação do mercado do trabalho e da desindexação dos salários. (Boito Jr., 2003, p.9)

Para Boito Jr. “Não é exato afirmar, genericamente, que o governo Lula é uma continuidade pura e simples do governo FHC. O que ocorre é que o governo Lula amplia e dá nova dimensão ao que foi iniciado no segundo mandato de FHC”. Para Boito Jr. a novidade é que o governo Lula cria uma ilusão de poder no mundo operário, do novo sindicalismo.

Para Paulani, Lula implementou a política econômica conservadora ao chegar à Presidência. Paulani no livro Brasil Delivery tentou entender as razões que levaram a essa guinada conservadora de Lula e as consequências da continuidade da política neoliberal. Segundo Paulani, ao abandonar as perspectivas de desenvolvimento e soberania e valorizar a plataforma financeira internacional, Lula determinou a entrega do Brasil a interesses alheios à maioria da população. Abordagem consistente e aprofundada da política econômica petista, a obra analisa o desenvolvimento do capitalismo brasileiro e da industrialização, além de retomar a história do neoliberalismo enquanto doutrina. Um de seus objetivos é demonstrar que Lula fez uso de um instrumento singular para levar adiante sua política conservadora: a decretação de um estado de emergência econômico.

Para a autora, Lula estava fazendo tudo ao contrário:

“configurou-se, portanto, como a derradeira e mais uma vez frustrada esperança de uma refundação da sociedade brasileira, depois da devastação provocada pelos governos militares” (Paulani 2010, p.134).

Para aprofundar a investida neoliberal de um novo governo de coalização foi preciso abrir o governo para setores a direita do espectro político. Afinal, Getúlio Vargas dizia: “é muito eficiente fazer política de esquerda com gente de direita”. Muitos políticos aprenderam esta lição. Lula para chegar à Presidência fez uma aliança conservadora com o PL – Partido Liberal. O PT aprofundou – em nome da governabilidade – essa aliança com outros partidos, dispensando a histórica base do funcionalismo e expurgando parlamentares que ousaram votar em suas bandeiras históricas. O partido que representou o ‘novo’ que foi acusado de ser sectário, fechado, xiita e subversivo está sendo igualado no mesmo nível dos demais partidos políticos burgueses na medida em que realiza suas alianças eleitorais descaracterizando o seu passado de ‘partido dos trabalhadores’.

lula-maluf-0616-ae-630-jpg_181354Já em 2004, Lula/PT aceitou o apoio aberto de Paulo Maluf a Marta Suplicy. E assim deixou-se de incluir Paulo Maluf no relatório final da CPI do Banestado. O ato foi uma contribuição para reabilitar um político da ditadura militar. Essa aliança conservadora foi aprofundada e repetida em São Paulo em 2012 e durante o segundo mandato de Lula ampliou-se para outros partidos.

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.