por Gilberto da Silva Poderia sintetizar a Pedagogia do Suprimido como uma obra que tem “o futuro todo ainda para desacontecer”, mas com certeza, não seria um elogio às avessas, uma maldição e sim um desacontecimento meritório, um des-acontecer no sentido da oposição ao que já acontece na literatura, em específico, na poética. Tento, de início, não entender esta obra como puro reflexo da minha musculatura anciã, mas com o cordão da jovialidade de coisas não desenvolvidas na arte/vida suprimida. Em sua leitura, de fato apaixonante, procuro aprender, sem ser bancário, a mergulhar no universo do autor e apreender “coisas de endoidar, reminiscências, crescências” de um Zeh que é a pura expressão do “expressionismo surreal”, um sujeito carioca “retrô pacarai” (p.61) Alicerçaria uma pretensa crítica a uma maneira militante de “acreditar que encabresto alguma crise/ter que meu corpo ocupe uma vida/pôr meus delírios a fabricar guisados de letras sob soníferos” (p.57) Eu diria: vá Zeh! Vá cantando ou assobiando, pouco importa a temperatura, tú és mestre retrô, contemporâneo da arte de ensinar a suprimir angústias. Não serão dizentas palavras que mudarão o rumo da lida. O mundo é teimosia e respira excrecências fragmentadas. Ao tentar tecer a crítica – ou a vontade de – eu não serei um “déspota” a esclarecer como assistir novela e comer batatas fritas ou gelatina (p.103). Serei um democrata – não cristão – na aula de entender a supressão e compreender sua dura crítica ao consumismo. Leitores saibam – os que desconhecem – que o Zeh é um daqueles elementos que imaginamos caminhando pelas ruas cariocas cantando e sambando e entornando um caldo, tropeçando em letras e pulando rimas. Líquido, um sujeito à deriva. Pode ser uma construção; pode não ser. Mas que é sambista, é; escritor, é. Dantes, em A perspectiva do Quase , Zeh chamou a atenção para suas letras, líricas e linhas. Agora, nos quer aprendizes de supressão e retirados nossos ismos. Nos remete a uma pedagogia transfreiriana que deseja destruir o sistema periférico atual e nos engendrar em vielas e violas cariocas, noturnas e deliciosamente perigosas. A cidade espetáculo dorme enquanto “os cães ladram e as caravanas lucram”. E a mídia desempenha seu papel deseducador, ou manipulador. De texto em texto ao percorrer a pedagogia da supressão construímos uma nova vã sabedoria. Uma construção libertadora, humanizadora que para Paulo Freire é libertadora porque humaniza, reflexivo, histórico, transformador, consciência de si (PF. p.206) Já o Zeh ensina como ser o homus prático, a poesia como práxis, formadora, construtora. Poeta da linha de frente, pós caveirão, libertário. Talvez, por incompreensão ou leitura falha, não fiquei esclarecido se o autor tenta reduzir a complexidade da nossa existência desumana.  Uma supressão do sistema. Mas saibamos, entretanto, que a “distância que glosa é mera geografia” (p.176) e que outras supressões serão inevitáveis e possíveis no universo poético do Zeh. Gilberto da Silva é sociólogo, jornalista e editor da revista Partes ( http://www.partes.com.br ). Fonte: Partes, 7 out. 2014. Disponível em: http://www.partes.com.br/2014/10/07/a-pedagogia-do-suprimido/
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