Um doce café frio

 

Por Gilberto da Silva

 

Quem me chamou para um café, e não foi?

Quem acendeu um pavio e o deixou ao vento morno das manhãs? Coisas do destino.

Aquele pó está ficando velho e o cheiro já foi embora. Não há mais pó? Nem água?

Ilusões?

 

Aos poucos, cafés, mensagens, telefonemas e imagens se dissipam no horizonte das manhãs.

Não há mais o sabor das redes, sociais ou não, nem as falas mansas das tardes quentes.

 

Quem foi que me deixou com uma xícara na mão, saboreando as quenturas do líquido negro da paixão?

E que levou consigo as águas gasosas e gozosas que entremeavam os cafés…

 

Entre palavras mais ou menos ditas, malditas ou bem profetizadas, aqueles cafés quentinhos das tardes ficaram registrados em poucas linhas manuscritas.

Letras mais ou menos críveis, tortas e sinuosas.

Esfriaram também as filas dos cinemas, as músicas, o doce caminhar pelos bosques e praças.

Pior que o frio são as águas que descongelam levando para longe os restos.

Os restos da imaginação.

 

Assim, não há café para todos. Nem xícaras disponíveis para apreciar.

Lá fora da cafeteria, um cão passa preguiçosamente pela calçada.

Amigo, vamos caminhar?

Cães não tomam café…

 

Gilberto da Silva jornalista, sociólogo e editor da Partes, funcionário público aposentado e adora café…

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