
Segundo o biólogo Marc Bekoff, da Universidade do Colorado, nos EUA, os cachorros podem ser tão racionais que fazem planos para o futuro . Foto crédito Gilberto da Silva
Revendo meus arquivos encontro a correspondência de um amigo sobre a questões sobre Ética, Moral e o Amor, não posso deixar de registrar aqui, preservando sua identidade, que mesmo que esta missiva tenha sido trocada há vários anos passados ela continua atual
Caro amigo Gilberto
Há algum tempo atrás, nós estávamos escrevendo – através da internet (e-mail) as chamadas “provocações”. Em uma dessas provocações intituladas “As ideias fora de lugar” eu falei de um conceito utilizado – o AMOR, onde você Giba disse que fora do amor não existe ética – eu disse naquela ocasião que sempre entendi o seguinte: “o que nos diferencia de outras espécies é a Razão!! – Acredito então que o que permeia e nos faz éticos é também a racionalidade, dessa forma, diria “fora da racionalidade não existe ética”. Pois bem, acho que devo admitir que eu estava totalmente errado. Primeiramente porque o Amor não é somente emocional – o amor também pode ser fruto da razão (mas isso é uma discussão muito filosófica para as nossas reflexões futuras) – o que cabe neste momento é admitir um erro – pois uma vez que eu queria discutir a partir de um tema “As ideias fora de lugar” como posso afirmar que fora da racionalidade (que pode representar uma ideia no lugar) não existe ética. Os acontecimentos recentes (envolvendo o PT e sua direção em denúncias de corrupção) também contribuíram para eu entender que é necessário muito mais que a razão para nos manter éticos – talvez seja necessário mesmo – o AMOR, a Emoção, a Vergonha, a Pureza e tantos outros sentimentos ou reações humanas.
Eu estou escrevendo um artigo sobre Ética e Moral também abordando racionalidade e irracionalidade – por isso estou – teclando para você – é uma forma também de ordenar as ideias. Existe um filósofo (francês) Gilles G. Granger que escreveu um livro com o título: O irracional – que me influenciou bastante também – segundo ele existe algumas posturas que devemos ter perante o irracional – entre outras – fala que preciso utilizá-lo como recurso – na qual as regras são deliberadamente violadas ou abandonadas em busca de resultados novos ou inesperados – o que significa dizer que deixar de lado o racional pode ser um meio de renovar e prolongar o ato criador.
Penso que faltou isso ao partido no governo – e não a defesa corrente que todos dizem – “se não for assim – não se governa”.
Abraços
J.
PS: 1)Em O irracional, o filosofo francês procura considerar o sentido e a função do irracional em algumas obras humanas, mais especificamente na ciência. Segundo ele, a irracionalidade aparece quando a produção da obra se situa ou se desenvolve contra ou fora do quadro original, que eventualmente se tornou demasiado restrito ou esterilizado. Para Granger, o cientista, sobretudo o matemático, pode ter três posturas perante o irracional: a primeira seria encarar o irracional como obstáculo, que nada mais e do que o ponto de partida para o cientista reconquistar a racionalidade a partir do encontro com a irracionalidade. A segunda, classificada como recurso, manifesta-se na criação artística e tem a função de renovar e prolongar o ato criador. A ultima, denominada renuncia, e a verdadeira recusa do racional. Nesse caso, o produtor da obra renega o sistema originário de enquadramento do seu pensamento e da livre curso a sua fantasia.
2) Muito do conceito de AMOR que utilizei nas ditas provocações trocadas entre nós foi extraída dos pensamento de Humberto Maturana.
3) As provocações ocorreram antes do advento da “Lava Jato”.
4) Entre tantas leituras vale apena ler O Erro de Descartes, Emoção, Razão e Cérebro humano, livro de 1994, escrito pelo neurologista António Damásio.