Gilberto da Silva
Tem dias que eu acordo pensando que a vida poderia ser mais fácil. Poderia. Para que simplificar, se o charme do pensamento ocidental é complexar! Mas há infinitas variações: de humor, de caráter, de pensamento, de formação etc.. Tem dias que levanto lendo resumos de trabalhos acadêmicos, por exemplo, e fico a pensar que sou uma infinita pessoa de inteligência abaixo da mediana, quase reduzida a um pequeno sujeito irregular. Ler resumos de trabalhos acadêmicos, pode, no meu caso, causar problemas não apenas mentais, mas também de ordem estomacal.
Vejamos: os trabalhos – em sua maioria – para agradar uma seleta clientela que circulam em torno da Távola Redonda, apresentam verbos nunca antes usados nas falas e conversas de botequins, ou mesmo nas boas casas de leitores comuns. São, na realidade, complexas feituras para distribuição teórica em frequências reduzidas que primam não pela quantidade e sim pela qualidade no padrão conceitual em que ele deseja se destacar. Em sua maioria, tais trabalhos reforçam que o “objetivo” e, então, a coisa, a matéria deixa de ser objectum (no sentido escolástico) e vira uma simples metafísica no sentido kantiano das realidades suprassensíveis. Eu leio, releio, trileio e dou rodeios em todas as sintéticas linhas. Leio um, leio outro, idem ou id.
São textos muito bonitos, barrocos, renascentistas, pós-modernos, estruturalistas, discursivos e nada compreensivos (pelo menos para o cidadão mediano como eu…).
Após minuciosas leituras em eterno método cíclico desses resumos, eu fico com síndrome do pânico, com “gastura” no estômago e dor de cabeça. Sinto-me alijado do processo. Um ser qualquer sem sabedoria. Sinto-me um sujeito em franco processo de regressão linear múltipla. Se não consegui entender nem o resumo, imagine a totalidade do texto, do artigo, do trabalho!