Por Gilberto da Silva
“Por vezes é útil, para compreender melhor as questões da actualidade, afastarmo-nos delas em pensamento para depois, lentamente, a elas regressarmos. Compreendêmo-las, então, melhor. Pois quem se embrenha apenas nas questões do momento, quem nunca olha para além delas, é praticamente cego.” ([Norbert Elias, A Condição Humana, Lisboa, Difel, 1991 p13)
Sabemos que um dos maiores agressores do reino animal é o homem. Mais do que ser vítima, o grande problema do homem moderno é vitimar-se, ou seja, tornar-se vítima ou deixar-se transformar em vítima. Vitimar-se é ficar imolado em holocausto aos deuses. Não falaremos aqui do processo de vitimização jurídica, área que desconheço por completo.
Viver numa sociedade agressora e sem amor é deveras complicado. A perda da capacidade de amar, de sentir e de ter afeto carrega o homem à sua própria autodestruição. É que o amor não traz apenas felicidade, ele nos leva à vida ou ao encantamento do ser.
Certo é que o medo ajuda a nos vitimar-se. Mas ele existe para nos manter vivos e atentos. O excesso é que mata. Durante nossas vivências somos várias vezes levados à crer que devemos nos submeter ao outro ou que devemos ficar em posição de impotência diante de certos acontecimentos. Ninguém é o que gostaria ou poderia ser e temos a inveja a nos rondar inquietamente.
Extraídos os acontecimentos naturais e os imponderáveis, na maioria das vezes somos responsáveis por nossos erros ao deixar-nos ser manipulados por outrem. E dai se origina o sentimento de inferioridade e os diversos distúrbios dele decorrente. Fato que devemos, sobretudo, nos proteger.
Sabemos da dificuldade de domar as forças malignas da natureza e ficamos a nos perguntar: como combater nossos algozes? Responderíamos: sempre combatendo com altivez a qualquer ataque. Isso não significa tornar tudo bélico, mas sim revestirmos de amor próprio e de compaixão e buscar em si, no autoconhecimento, a chave para vencer os desafios que são postos.
Não podemos usar a desculpa como a válvula de escape para tudo. Devemos abandonar a passividade e aqui reside nosso amadurecimento. A proatividade aqui é essencial. Como seres desejantes, devemos transformar nossos pequenos desejos em grandes sonhos e conquistas.
Podemos nos tornar vítimas de tudo e de todos: golpistas, manipuladores, bandidos, agressores, políticos, vítimas do social, cultural político e econômico e até do próprio ego fato tão bem ilustrado no filme Birdman (ou a Virtude inesperada da ignorância).
Em muitos casos é necessária a forte ação do Estado ou da sociedade para combater as causas da vitimação.
Baltasar Grácian escreveu no aforismo 217 de A Arte da Sabedoria Mundana:
“Não amar nem odiar para sempre. Trata os amigos de hoje como se pudessem se tornar os piores inimigos amanhã. Uma vez que isso pode acontecer na realidade, que tal fato seja previsto. Não devemos dar armas aos vira-casacas da amizade; eles empreenderiam a maior guerra com elas. Ao contrário, com os inimigos, deixe a porta aberta para a reconciliação e que seja a da cortesia. Ás vezes, a vingança se transforma em tormento, e a satisfação de ter ferido alguém frequentemente é motivo de pesar.”
Mas de nada adianta sairmos da posição de vítima e passar ativamente à posição de algoz como muitos fazem. Diria em forma quase pejorativa: autopurificar-se não é tirar a merda de si e jogar no outro! Ao agirmos dessa forma aparentemente resolvemos nossos problemas imediatos, mas tal atitude não nos leva ao autoconhecimento.
“As vítimas, quando irrompem na história, que criam o novo” escreveu Enrique Dussel em Ética da libertação na idade da globalização e da exclusão. (Petrópolis: Vozes, 2000, p. 501).
Quando será o dia que diremos: nós éramos as vítimas de nós mesmos!
Segue abaixo letra e música:
Kings And Queens
THIRTY SECONDS TO MARS
KINGS AND QUEENS
Into the night
Desperate and broken
The sound of a fight
Father has spoken
We were the Kings and Queens of promise
We were the victims of ourselves
Maybe the Children of a Lesser God
Between Heaven and Hell
Heaven and Hell
Into your lives
Hopeless and Taken
We stole our new lives
Through blood and pain
In defense of our dreams
In defense of our dreams
We were the Kings and Queens of promise
We were the victims of ourselves
Maybe the Children of a Lesser God
Between Heaven and Hell
Heaven and Hell
The age of man is over
A darkness comes and all
These lessons that we learned here
Have only just begun
We were the Kings and Queens of promise
We were the victims of ourselves
Maybe the Children of a Lesser God
Between Heaven and Hell
We are the Kings
We are the Queens
We are the Kings
We are the Queens
REIS E RAINHAS
Dentro da noite
Desesperados e destruídos
O som de uma luta
O Pai já tinha dito
Nós éramos os reis e as rainhas da promessa
Nós éramos as vítimas de nós mesmos
Talvez as crianças de um deus menor
Entre o céu e o inferno
Céu e inferno
Dentro de suas vidas
Sem esperança e capturados
Nós roubamos nossas novas vidas
Através de sangue e dor
Em defesa de nossos sonhos
Em defesa de nossos sonhos
Nós éramos os reis e as rainhas da promessa
Nós éramos as vítimas de nós mesmos
Talvez as crianças de um deus menor
Entre o céu e o inferno
Céu e inferno
A era do homem acabou
Uma escuridão chega a todos
Essas lições que aprendemos aqui
Estão apenas começando
Nós éramos os reis e as rainhas da promessa
Nós éramos as vítimas de nós mesmos
Talvez as crianças de um deus menor
Entre o céu e o inferno
Nós somos os reis
Nós somos as rainhas
Nós somos os reis
Nós somos as rainhas
Vídeo:







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