Poema Neila Daniela Figueira e Alexandre Dias Paza
Desgrafismos Quilombola
(Pra quem drume acordá)
Gritam nas vozes das metralhadoras
Que vomitam nossa história,
Evacuam nossa miséria
Favela abaixo
E salpicam nas telas
das salas, dos quartos,
das cozinhas.
Em horário nobre
pela casa toda
as flechas de minha bisavó
resistem e se renovam
em rajadas
com o ouro-pó
escoando em gramas
do morro vermelho
e-nosso sangue inda ferve
e-nosso braço inda serve
e-nossa luta inda
Não, acabou não
Terminou nunca
Abalou nem
Minha pulsação de pipoca
medieval e barroco
nosso coração oco
e feliz
e só
retruca
no ritmo dos disparos
trêsoitão
É um assalto
É a batida da corimba
É um som
Zumbindo
É Zumbi
Zambi
quem sabe um dia
eu aprenda a gostar
dos tri-balistas
sem tribo sem taba sem oca
sem bala
e suas mercadorias
mel-ódiosas.
Mas a rosa na mão
é o truque
Eu quero o batuque
desassossegado com
ou sem rima
fiapo de vida
do negócio
e-legal
que mantém
nosso epitáfio:
[ sóssequer respirar
aqui só, sequer ]
des-construção
soñ-ar
?